O herói que virou vilão

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De interlocutor constante, de amigo íntimo e de grande cabo eleitoral a pária da política nacional em menos de seis meses, esta foi a trajetória cumprida pelo governador Sergio Cabral diante do PMDB, de Lula, do PT e da população que o elegeu e reelegeu governador. Fora todos os mandatos de deputado estadual, federal e senador, sempre com votações expressivas.

Não foram os Black-Blocs que o retiraram da privilegiada posição, muito menos os acampamentos em frente à sua residência, mas uma conjunção de fatores que regem há algum tempo a política nacional.

O mais novo ministro do STF nomeado pela presidente Dilma Roussef, Luis Roberto Barroso, em seu voto proferido em relação a um agravo do Deputado José Genoíno disse: “Se o sistema eleitoral e partidário não for alterado, a lógica de compra e venda passa a ser perpetuada no poder público”.

Está aí o cerne da questão.

O PMDB foi durante os anos da ditadura o grande “guarda-chuva” da oposição, que abrigava todos que não eram pró-governo. A grande mudança observada nesse partido, dono da maior e melhor organização nacional, se deu durante a Assembléia Constituinte que engendrou a chamada Constituição Cidadã. O “poder” escapou das mãos de Ulysses Guimarães, mas nunca mais deixou o partido e vice-versa. A partir daí todas as negociações de grandes ministérios, estatais, programas ou verbas, tinham e têm a chancela do PMDB. O poder central e do Congresso, sempre passa pelo partido e por figuras como José Sarney e Renan Calheiros.

Na abertura dos Jogos Panamericanos de 2007, o ex-presidente Lula recebeu imensa vaia no Maracanã. Nada que não fosse parte da tradição oposicionista carioca, apesar de também ter abrigado Chagas Freitas, falso opositor a ditadura. Em um momento de crescimento do país, da reeleição, do momentâneo esquecimento do Mensalão, o que estava por trás daquela vaia?

Em minha opinião, o governador Sergio Cabral selou ali sua maior aliança com o PT e o ex-presidente. Apesar de sempre obter expressiva votação no estado, o PT nunca governou, salvo na ocasião em que a vice-governadora Benedita da Silva assumiu o poder devido ao afastamento de Anthony Garotinho durante sua campanha presidencial.

Em uma combinação de fatores quanto a recursos para segurança, candidatura do Brasil a Copa do Mundo de 2014, tendo o Maracanã como pano de fundo, as Olimpíadas em 2016 na cidade do Rio de Janeiro, e o empreendedorismo de Eike Batista, o PMDB conquistou para si um governo de ponta, uma prefeitura com boa aprovação e uma aliança fortíssima com o PT, contraponto a perdas sucessivas em São Paulo e disputas acirradas em Minas Gerais. Todo mundo estava satisfeito.

No escândalo da Construtora Delta e na CPI de Carlos Cachoeira o governador foi escandalosamente protegido pela tropa de choque do PT e do PMDB, transformando uma investigação com possíveis e graves desdobramentos de corrupção, em uma pizza temperada pela cassação do Senador Demóstenes Torres, imenso desafeto do governo PT. Tudo foi posto de lado, apesar de diversas denúncias da estreita ligação do governador Cabral e seus secretários com a Construtora Delta e seu dono Fernando Cavendish, e o famoso episódio parisiense de dança com guardanapos na cabeça, em que as esposas dos políticos posaram para fotos com sapatos caríssimos, demonstrando assustador acinte ao eleitor.

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O governador Sergio Cabral despontava como um nome forte para vice-presidencia, garantindo a sólida aliança que governa o país, ou até poderia ser considerado potencial candidato para um ministério importante.

Mas “no meio do caminho havia uma pedra, havia uma pedra no meio do caminho” como diria Drummond. Como sempre, o imponderável deve ser considerado, alías sempre, principalmente quando se trata de política.

Alguns “acidentes” de percurso como os sucessivos adiamentos da reinauguração do Maracanã, os aumentos dos custos das obras de sua reforma, a desocupação do antigo Museu do Indio, os desvios de verbas das obras na região serrana do estado, começaram a impor um pequeno inferno astral ao governante.

As manifestações de junho não estavam no radar de ninguém e concentravam-se a princípio, nos vinte centavos, problema do prefeito Eduardo Paes, criado pelo ministro Mantega e presidente Dilma, pois foram os dois que pediram pelo adiamento dos reajustes para não atrapalhar o cálculo da inflação.

Mas sem repetir o que já se sabe a população encheu a sacola de reclamações e foi para as ruas. A polícia carioca demonstrou incompetência para contornar a situação. O resto está nos jornais.

No meio do turbilhão promovido por intervenções infelizes do governador, da queda econômico-financeira de seus parceiros (Delta e EBX), de seus sumiços estratégicos (péssimos), surge a candidatura do senador Lindbergh Farias, negada por Brasília. Desmentidos, mal-entendidos, declarações e ameaças, esfriam o jovem e ambicioso senador, mas o estrago havia sido feito.

Durante semanas o governador ficou sitiado, todos os seus atos, bem  conhecidos de todos, foram vasculhados e estampados, os erros da Polícia Militar, recorrentes há décadas, voltaram às manchetes, os índices de aprovação arrastavam a barriga no chão.

Onde está Amarildo?

Ninguém sabe.

O atual governador foi abandonado como tantos outros pelo ex-presidente Lula “teflon”, que nem atende suas ligações. E a presidente Dilma nem foto ao seu lado quer.

Eike Batista, com problemas por alguns anos pela frente, retira apoio as UPPs, tenta vender o Hotel Glória, a concessão da Marina da Glória, não quer nem ouvir falar em Maracanã, e venderá como sucata seu barco que mostrava as maravilhas da Baía da Guanabara.

Restou ao governador comunicar que renuncia em 31 de dezembro, assim como seu secretariado. Tenta salvar um reduto do PMDB. Alianças são como o amor descrito no “Soneto da Fidelidade” de Vinicius de Morais “…infinito enquanto dure…”.

Cabe ao eleitor fluminense pensar quem forma este PT que descarta  qualquer um que possa atrapalhar sua imagem, já não tão muito pura.

Cabe um recado, no meu caso, não sentirei a menor falta de Sergio Cabral, e temo por Lindbergh Farias. Alguém tem alguma outra opção para governar o estado?

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