Passos curtos, distâncias longas

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Lá pelos idos da década de 1970 havia uma rede de postos de gasolina chamada Atlantic, com um slogan de grande sucesso que até hoje é citado: “Quem não é o maior tem que ser o melhor”. Seu símbolo era um ratinho que punha medo em um elefante nas propagandas das revistas.

Sempre fui o menor de todas as turmas das escolas que frequentei, bem como no bairro. Em um colégio exclusivamente masculino como o São Bento, isso acarretava algum sacrifício na prática de determinados esportes. Logo as temporadas de basquete e handball, mesmo curtas, eram de extrema dificuldade. Nunca fui um craque de futebol, mas tinha lá minhas qualidades e aprendi que correndo mais que os outros eu conseguia compensar algum desequilíbrio físico, tal qual o ratinho da Atlantic. Numa determinada época, na rua onde eu jogava futebol na Urca, como havia dois garotos chamados Mauro, passei a ser conhecido como “motorzinho”.

Com a idade tomei gosto pela corrida e ao final da década de 1970 eu era um dos poucos adeptos dessa prática no bairro, fazendo diariamente trajetos de seis a oito quilômetros. Na época do vestibular, descobri o quanto isso me acalmava.

Quando me mudei para São Paulo, em meados dos anos 1980, comecei a a correr no Parque do Ibirapuera. Definitivamente, estava convencido que nunca ia parar, embora nos primeiros dois quilômetros de cada dia eu sempre me perguntasse o que cargas d’água estava fazendo ali. Depois, a sensação passava e eu ria sozinho.

Assim que começamos a conhecer melhor nosso corpo, aprendemos a usá-lo da melhor maneira possível. De novo, levando em conta a minha estatura, minhas passadas não podiam ser longas, logo eu despendia mais energia que aqueles dotados de estatura mediana. Portanto, precisava correr mais rápido. Afinal, “quem não é o maior tem que ser o melhor”. No início dos anos 1990, comecei a participar de provas de rua, quando elas ainda contavam com míseros 500 participantes, quase sempre xingados ou debochados pelas ruas de São Paulo no comecinho das manhãs de domingo. Essa galera foi crescendo e eu também, não em altura, mas em distâncias percorridas. Passei a percorrer dez quilômetros cinco vezes por semana e a participar de meias-maratonas (21 quilômetros).

Diversos motivos me levaram a parar com a corrida no meio da década de 2000. Senti muita falta de tudo, principalmente da atmosfera das provas. Elas reúnem milhares de pessoas sem o compromisso de ganhar de ninguém, a não ser de si mesmas. Palavras de incentivo e ajuda mútua nos ensinam a respeitar os que estão em melhores condições e aqueles que precisam de uma ajuda para perseverar e chegar ao fim. Esse ambiente é muito legal. A alegria de terminar uma prova em milésimo lugar é a mesma que se tem chegando cem posições abaixo ou acima. É o sabor de cumprir uma meta que você se propôs naquele dia da melhor maneira possível.

Voltar ao Rio de Janeiro incluía o projeto de recomeçar a correr. Já em São Paulo trocava mensagens com Judemberg Oliveira, amigo de longa data, botafoguense, dito socialista, e dono de um restaurante japonês muito gostoso no centro da cidade (www.tibu.com.br). Ele me incentivou e disse que conhecia um personal trainer que poderia me ajudar a retomar as corridas.

A proposta inicial era treinar na Urca. Nada mais agradável, mas o visual deslumbrante vem acompanhado por um piso irregular e duro. Como meus joelhos e tornozelos não enxergavam bem a paisagem, logo tive necessidade de mudar de ambiente.

Apesar da vergonha e do receio de entrar para uma turma nova, parte dos problemas vindos de São Paulo, fui conhecer Christiano Markes (www.markesrunning.com.br) que me devolveu o tesão de participar de provas de rua. Já tenho até treino pronto para recomeçar assim que receber liberação médica e me preparo devagar, com caminhadas conforme já descrevi por aqui anteriormente (http://mgiorgi06.wordpress.com/2013/09/07/a-arte-de-andar-pela-orla-do-rio-de-janeiro-2/).

É importante estar ciente de meus limites e entender que nunca serei o maior, mas correrei melhor, mesmo que seja só para mim.

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