Nos últimos três anos, o ministro da Fazenda Guido Mantega não acerta uma previsão. Não podemos esquecer que ele, apesar de acompanhar o ex-presidente Lula há mais 35 anos, nunca foi um nome cogitado para o posto, logo esperar algo de muito bom seria ingenuo ou de um otimismo leviano.
Bem, economistas não são pessoas que leem o futuro nem são palpiteiros. Mas é uma obrigação acertar, no mínimo, na direção de determinadas projeções quando se dispõe de uma boa quantidade de dados.
No Brasil, para atender interesses políticos, os economistas terminaram a década de 1970 em total descrédito. Após o “milagre brasileiro”, a inflação, as desvalorizações da moeda e o crescimento econômico nulo, o nível de credibilidade da classe andou muito baixo justamente quando membros do então governo projetavam crescimento e bem-estar. Lembro que quando fui prestar vestibular para Economia o sonho era trabalhar no mercado financeiro, pois ninguém queria ir para o governo.
A recuperação do “bom nome” veio em meados da década de 90, quando após quatro planos econômicos, o país conseguiu finalmente um período de estabilidade.Vários representantes da categoria tiveram sucesso em cargos importantes, sendo cogitados até para cargos eletivos. Por serem inteligentes, nunca aceitaram.
Mas, nosso atual ministro Guido Mantega retomou a péssima mania de colocar previsões e projeções a serviço das urnas ou da propaganda político-partidária. Em vários depoimentos no Congresso levantou a hipótese de que nenhum economista tinha acertado projeções e previsões de 2010 para cá. Errado mais uma vez. Todos alertaram para o futuro ruim.
Projeções e previsões são guias do que pode acontecer no futuro próximo e longinquo, não são palpites da megasena, onde se acerta a inflação até a segunda casa decimal. O importante é alertar com antecedência sobre os rumos da economia de um país. As correções de rota fazem parte de uma ciência social que lida com pessoas de reações por vezes imprevisíveis.
Na defesa dos meus pares que erraram junto com as autoridades, está a premissa de que se esses, com todos os dados em mãos antecipadamente dão uma direção, é justo que muitos as sigam. O que não está correto é indicar a direção errada quando se tem uma boa quantidade de dados confiáveis a mão.
Começamos o ano de 2013 com promessas do governo de crescimento do PIB de 4%, após o péssimo desempenho de 2012. Já em meados de março, essas projeções eram questionadas e o governo insistia no número inicial. Quando as indicações privadas já apontavam para um crescimento abaixo de 3%, o governo acenou com a “possibilidade” de não atingir o patamar inicial. Agora cabe uma pergunta, em que país residem o senhor Guido Mantega e a Senhora. Dilma Roussef, com seus diplomas, e fama de bons administradores?
Uma das mais importantes atribuições do governo: transmitir a confiança de que sabe o que faz e o que fará. Quando o investidor, o empresariado, e o consumidor detectam a insegurança na condução da política econômica, desencadeiam reações que levam a profecias autorrealizáveis. Ou melhor, todos começam a achar que a situação ficará ruim. Os investidores se retraem, os empresários sobem os preços e se protegem, e o consumidor, o que mais sofre, consome o estritamente necessário, e paga muito mais caro. O resultado é o país caminhando para mais um desempenho pífio da economia.
Muitos pergutam: mas se o governo aparece na TV e cria programas, lança projetos, dá incentivos, reduz impostos e os juros, porque o país não engrena? A resposta parece complicada, mas não é.Houve uma perda de credibilidade que antecedeu as manifestações. Tal qual receita de bolo, a confiança deveria ser ingrediente semelhante ao fermento, mas voltaram a acrescentar a forma mais torpe de se fazer política que esse país segue há mais de trinta anos. Com isso contaminaram todas as esferas do poder e todas as principais instituições do Estado, e assim as manifestações surgem com diversos pedidos.
Parece presunção achar que os economistas têm esse poder de transformação, ou até parecer que há certa perseguição ao nosso tão esforçado ministro. Imaginemos, porém, o que acontece com um chefe sem credibilidade: até o boy demora mais tempo no almoço e no banco.
Abrimos o segundo semestre com previsões ruins demais para a economia em 2013 e 2014. Dentro do governo, o Banco Central destoa do tom otimista ou “avestruz” do Palácio do Planalto, criando mais insegurança em todos. Assim, ao observar que o governo “deposita esperanças” no leilão do Pré-Sal, nas concessões de infraestrutura e na superssafra agrícola, eu fico assustado com o amadorismo que campeia em Brasília. Não sou da turma das teorias da conspiração que insistem nessas premissas para demonstrar força para as eleições. O crescimento de um país é um processo que ocorre ininterruptamente com atitudes e ações que não deveriam obedecer calendários políticos ou gregorianos.
Não há o que esperar de bom, somente resultados pontuais que não comprometerão as projeções sérias da maioria de que as perspectivas são ruins.
A hora do PT governar é esta A herança bendita não dá mais frutos, o crescimento mundial é fraco, a China não é mais a redentora das nossas commodities, e culpar os olhos azuis não rende mais manchetes nem reverte em índices des popularidade.