Voar é com os pássaros… de aço

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aeroportos III

O avião é o meio de transporte mais seguro e civilizado até agora criado pelo homem! Embora acredite nisso piamente, isso não quer dizer que eu não sinta medo, ou melhor, pânico de estar lá dentro, sentado sobre uma bomba de querosene, preso por um cinto de segurança, sem ver o que está acontecendo na janelinha da frente.

Para quem tem esse tipo de fobia, a viagem começa 48 horas antes, com a consulta a todos os sites de previsão do tempo. Já tenho a intenção de pedir ao Obama que espione o clima no Brasil para mim. À medida que a hora de viajar se aproxima, mais adianto meus afazeres, a ponto de pedir o táxi para ir ao aeroporto cerca de quatro horas do embarque. Quanto às malas, elas já se encontram prontas na hora da consulta aos mapas metereológicos.

Recentemente, a frase mais repetida por viajantes experientes é: “O aeroporto parece uma rodoviária”. Queriam que parecesse o quê, quando as passagens podem ser parceladas em quinze vezes e tudo em Miami custa um terço do preço daqui? Mas, realmente, para um “aerofóbico”, encontrar o aeroporto cheio é um sinal infalível de que tudo sairá errado.

Importante ressaltar, nunca desisti de uma viagem, mesmo com mau tempo, mas nunca deixo de acalentar, lá no fundo,  aquela esperança de que o compromisso possa ser adiado.

Aeroportos I

A fila do check-in sempre tem crianças correndo, pais checando documentos e mães pouco se lixando para os rebentos. Senhoras perdidas, jovens executivos, que ontem viajavam de Pássaro Marrom, se fingindo de compenetrados e com olhar entediado, e os que mais admiro: aqueles que estão mesmo tranquilos! Eu os invejo. Estão sempre bem vestidos, homens ou mulheres, não têm preferência de assento na aeronave, sua bagagem nunca é grande, sorriem para as crianças e dão passagem aos mais velhos. Não é o meu caso. Entro em guerra com tudo e todos, reflexo da paúra total.

Vou ser atendido pela moça do check-in:

— Bom dia senhor, passagem e documento de identidade, por favor.

Sempre atenciosa e bem maquiada, mesmo às 5h30 da manhã. No mesmo instante me pergunto a que horas teria acordado para ficar assim e onde será que ela mora?

Um testemunho: sempre fui bem atendido, não tenho do que reclamar aqui no Brasil. Lá fora, às vezes tive alguns bate-bocas, perdoados pelo meu nível de estresse.

Escolho lugar, despacho bagagem e vou para o “pré-operatório”, ou melhor, para a sala de espera.

Lá as companhias aéreas e o quintal do Zé Dirceu, a Infraero, tentam alguma forma de entretenimento, mas todos, inclusive eu, usam o banheiro de forma descontrolada. Gostaria inclusive de propor que haja uma inversão de tamanho entre a sala e os toilettes.

Neste momento começo a tentar mapear quem estará sentado perto de mim. Todos têm aquela superstição sobre padres e freiras e é por aí que eu começo. Se não tem nenhum já saio ganhando; em seguida, parto para  as crianças de colo que, coitadinhas, choram de dor de ouvido na decolagem e aterrissagem, e muitas vezes permanecem chorando durante o resto da viagem; crianças desacompanhadas viajam lá na frente e dão menos trabalho; me interessam as que estão com pais que têm certeza que seus filhos são muito bem educados, mesmo se eles correm ininterruptamente pela sala de espera, apertam todos os botões no avião, levantam e descem as poltronas ritmadamente a cada 30 segundos e ainda chutam sua cadeira treinando para serem, nos próximos dez anos, candidatos ao posto de novo Neymar.

Chamada do voo e obviamente há mudança de portão de embarque. Pode ser uma boa oportunidade de ver quem vai embarcar comigo. Doce ilusão, todos vão!

— Crianças, gestantes, e pessoas com dificuldade de locomoção têm preferência!

E de repente todos têm problemas, há muvuca no portão. Uma das coisas que acho mais irritantes, entre tantas,  é zona na hora do embarque. Lembro da rodoviária e vejo pessoas com verdadeiros baús afirmando que não passam de bagagem de mão.

Muito bem. Sentado. Mala de mão no bagageiro. Vamos às instruções da comissária. E novamente tenho outra pergunta. Onde é que elas arrumam aqueles nomes? Duvido que sejam de batismo. Acho que funciona como nos mosteiros e conventos. Ao ingressar na companhia aérea, todos recebem outro nome.

Instruções dadas, aeronave taxiando, estou no terceiro Pai-Nosso e já pedi por toda a família da tripulação, com especial atenção ao piloto e co-piloto.

O avião vai pela pista para a decolagem. Confio na galera lá da frente e prometo perdoar a criança que chuta meu banco e o cidadão ao lado que não desliga o celular.

Tudo transcorre como deveria e então eu me arrisco a fechar os olhos, pois os barbitúricos ingeridos para me controlar conseguem enfim vencer minha adrenalina.

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