Por uma estrada longa e sinuosa

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Intimidação IV

The long and winding road
That leads to your door
Will never disappear
I’ve seen that road before
It always leads me here
leads me to your door

 

Chegou sem pedir licença, foi tomando o corpo todo, se apossando de cada canto.

Não é amor, é doença, é destrutivo, aniquila o raciocínio, não tem limites, é o fim da autoestima. O ciúme de você surge da sombra dos sentimentos.

Eliminei qualquer possibilidade de voltar atrás: dinamitei todas as pontes, esqueci deliberadamente das escolhas feitas nas bifurcações, quebrei a bússola e não levei mapa.

Não fui o escolhido.

Era tarde para recomeçar — impossível.

O jeito foi renascer.

Desapareceram as letras, as palavras. Acabou a tinta? Acabou o papel? Os pensamentos não se formulavam. Percebi que a imaginação havia sido sequestrada e andava aprisionada em algum local indefinido.

“Ora (direi) ouvir estrelas! Perdeste o senso…”  Não, amor, tento ouvir de tudo para tentar encontrar alguma pista e descobrir onde foi que eu a perdi.

Por mais que eu andasse, não conseguia chegar a lugar nenhum. Mas não me passava pela cabeça desistir. Estava certo de que algo estaria à minha espera ao final de tanta estrada. Era assim que eu pensava. (Hoje só faço caminhadas com começo, meio e fim. Sem decepções. Esperança na medida certa.)

Sonhar com você deve ser mais do que saudade. Tanto tempo passou e o sentimento permanece sólido. Sou eu quem sonha com a pessoa errada ou será que traio a realidade com o sonho?

Sem culpa ou erro, talvez eu tenha me distraído e deixado de ver o que era tão óbvio que cegava. Não vai sobrar dúvida nem certeza no dia que eu entender que para ter dois é preciso somar um mais um.

Se eu não soube cuidar de mim, como poderia cuidar de nós? E você, cansada da falta de cuidado, foi cuidar da sua vida. E fico a me lamentar pelo descuido do meu coração.

Não fugi porque sabia o final. Por pior que fosse, já era conhecido. Coragem maior é daquele que foge rumo a um destino ignorado, sem garantias de que aquilo que o aguarda é melhor do que enfrentar o inexorável.

E a ilusão nossa de cada dia é um remédio para suportar o passar do tempo. Enquanto liam para você a primeira página, a última já havia sido escrita. Entre uma e outra, é permitido iludir-se, mas sem iludir ninguém. Afinal cada um deve responder apenas pela própria loucura.

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