A agonia da galinha dos ovos de ouro

0 Flares Twitter 0 Facebook 0 Google+ 0 LinkedIn 0 Email -- 0 Flares ×

Petro III

Para que se possa falar sobre o que está acontecendo com a Petrobras e com o governo, é importante esclarecer alguns pontos e ver onde existe uma confusão entre o público, o privado e o projeto político.

O petróleo é da União. Patrimônio Nacional.

A Petrobras é uma empresa de capital misto, tendo com acionista majoritário a União. A empresa não recebe recursos do governo, se sustenta e é rentável.

No entanto quem controla os reajustes dos combustíveis é o governo. É aí que começa a confusão. A Petrobras tem outros acionistas, mas o atual governo não os trata como sócios.

Em função do peso importante que os combustíveis têm na inflação, os aumentos não são autorizados, e a política anti-inflacionária é praticada às custas da empresa.

Hoje em dia e provavelmente por, no mínimo, mais quatro ou cinco anos, a Petrobrás terá que importar gasolina e óleo diesel por não ter capacidade de refino suficiente para suprir a demanda no país. Como o preço desses dois produtos no exterior é superior aos praticados no país, cada litro importado gera uma redução no caixa da empresa.

Como a cadeia produtiva do álcool depende do preço pago pela Petrobrás, atrelado ao preço da gasolina, a produção de etanol vem caindo, e o famoso programa que assombrou o mundo por ser renovável e que poderia reduzir a poluição, e a dependência do petróleo, jaz vítima da política anti-inflacionária e do projeto de poder do atual partido que governa.

Utilizando-se da enorme cadeia produtiva da exploração, extração e refino de petróleo e distribuição de derivados, o governo induz ambicioso programa de investimentos à Petrobras. Eles são fundamentais: exploração e extração de petróleo do pré-sal, aumento da capacidade de refino e aumento de produção de petróleo nos atuais campos. Mas precisam de mais prazo para execução e mostrar rentabilidade e o atual plano de investimentos contempla valores muito altos para os próximos cinco anos. E depois? Precisam também de uma empresa rentável, com capacidade de reinvestir seus lucros.

Como não pode reajustar seus preços conforme a demanda interna, ou de acordo com a elevação da cotação do dólar em relação ao real, e ainda precisaria manter paridade com os preços internacionais, o caixa vem sendo reduzido e mal aproveitado.

Assim, para manter os investimentos, a empresa iniciou um endividamento que atualmente compromete sua nota nas agências de classificação de risco. Mantém grau de investimento, mas com viés de baixa, isto é, se não houver melhora na próxima avaliação, que ocorrerá provavelmente em junho, ela perde seu status. O atual governo trata uma coisa privada com políticas públicas e vai deixar a conta a ser paga por muitos anos.

Petro IV

Os funcionários da Petrobras têm um grande sentimento corporativista e já entenderam que o preço será pago pela empresa e os louros, se houver algum, serão do atual governo. Esse sentimento foi demonstrado quando a atual diretoria apresentou uma fórmula de reajuste automático dos combustíveis de acordo com parâmetros não divulgados. O atual governo se opôs, invocando a inflação.

Ora, a inflação que existe, sem os reajustes de combustíveis, é produto de gastos acima do possível por parte do governo. Começa a briga pelo projeto de poder em detrimento das finanças daquela que é a maior empresa do país.

Para reduzir o endividamento — o maior de sua história em termos absolutos e relativos — a empresa tem feito desinvestimentos no exterior. Nascem novas perguntas. Se esses ativos não são bons, qual a análise realizada quando da aquisição desses? Estamos falando de operações realizadas há no máximo oito anos, ainda sem tempo de retorno suficiente. Aqui, mais uma vez, constatamos o trato da coisa privada com objetivos públicos.

Autorizou-se um pequeno reajuste para a gasolina e óleo diesel, de 4% e 8% respectivamente, quando o necessário era de 15% e 25%. Vamos à última parte do uso da coisa privada de forma errada. O atual governo tem utilizado algumas manobras para conseguir maior volume de dividendos de suas empresas, a fim de fechar suas contas anuais. Já fez isso com a Petrobras em uma venda de petróleo da União com pagamento antecipado, e não pode mais fazer por não haver mais caixa para tal.

Assim a situação é a seguinte: há necessidade de recursos para investimentos; o caixa cai diariamente; não existe possibilidade de aumento de capital, pois o acionista majoritário não tem recursos; não há mais espaço para endividamento. Como a empresa solucionará esta equação?

Os próximos três anos serão muito complicados. Não me preocupa a queda das cotações na Bolsa hoje, e sim o preço das ações, que refletem toda a empresa em 2017.

A administradora de investimentos americana Macroaxis divulgou há uma semana, estudo onde acredita que a Petrobras tem 32,4% de chances de falir nos próximos dois anos. Esta empresa é especializada neste tipo de cálculo e o realiza em mais de 190.000 empresas com cotação em bolsa ao redor do mundo. Sem dúvida, acho que é um cálculo teórico e com pouquíssima chance de ocorrer, mas é importante saber que os números da estatal brasileira induzem a isto.

Alguém precisa tomar uma providência.

.

0 Flares Twitter 0 Facebook 0 Google+ 0 LinkedIn 0 Email -- 0 Flares ×

1 comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *