— Você poderia me dar licença para eu pegar o molho de tomate ali embaixo?
— Claro! Desculpe se estou atrapalhando. É a primeira vez que venho nesse supermercado e estou um tanto quanto perdida.
— É assim mesmo. Lugar novo confunde um pouco.
— Você saberia me dizer se cortam frios aqui ou se tenho que levar aqueles embalados nas bandejas?
— Ao final do próximo corredor, no fundo. Eles fatiam o que precisar.
Afastei-me pensando naquelas revistas que dão dicas de paquera para quem acabou de se separar e comecei a rir sozinho. Imagina se eu puxaria conversa sobre os frios que ela gosta! Sem dúvida que olhei-a com outros olhos, afinal nunca a tinha visto por ali e era bonita.
— Desculpe, mas você sabe qual é o melhor sabão em pó para roupas delicadas?
Lá estava ela de novo com dúvidas.
— Aquele ali era o que se usava na minha casa.
— É que as compras eram sempre feitas pela empregada.
— Não se justifique…
Que resposta mais idiota. Mas quem acharia que dali podia sair alguma coisa? Fiquei ali atrás, rindo, agora cheio de dedos para falar com ela. Eu ia sair daquele corredor, mas não resisti.
— Chegou a pedir os frios cortados?
— Hã…sim, obrigada.
“Bem feito, tomou um corte. Sem trocadilhos”, pensei alto
— O que disse?
— Nada. Boas compras!
De novo! Que frase idiota!
— Obrigada, muito gentil. Qualquer dúvida eu pergunto a você.
Sorri e fui embora. Olhando bem, ela não era assim tão bonita, mas me chamou a atenção.
Sábado de manhã, chuvoso, outono. Quem poderia achar que eu ia arrumar conversa no supermercado? Conferi a lista de compras, parado perto dos laticínios, e quando fui pegar a manteiga, completamente distraído, esbarrei em alguém. Olhei:
— Desculpe, estava com a cabeça longe, por favor pode pegar.
— O que é isso, eu é que estou muito sem jeito hoje, saí sem óculos e aí sou um desastre. Na verdade, eu ia pegar para saber se a manteiga era sem sal.
— É sim.
Peguei o pacote e dei a ela.
— Preciso de dois.
Peguei mais um.
— Muita gentileza. Você vem sempre aqui?
Olhei assustado para ela pela pergunta, e seu rosto vermelho denunciou seu arrependimento pela pergunta.
— Venho, moro aqui perto. — Respondi sem conter o sorriso.
— Péssima pergunta, não foi?
— Engraçada para um supermercado…
Uma nova pancada de chuva começou a fazer barulho e ela disse:
— Vim a pé, melhor esperar passar a chuva.
Era a deixa para convidá-la para um café ali mesmo. Mil perguntas e tipos de convite passaram pela minha cabeça, e eu ali parado, semi petrificado, tal qual um idiota ainda com meio sorriso no rosto, e ela como que fazendo hora para escutar alguma pergunta. Então saiu:
— Quer tomar um café enquanto a chuva não passa?
Agora foi ela, sem jeito, com rosto vermelho de novo, contrastando com a camiseta branca, que demorou a responder. Com o rabo de cavalo balançando respondeu que sim com a cabeça.
Andamos meio sem graça, um ao lado do outro pelo corredor que de repente ficou comprido demais. Eu não sabia o que dizer. Chegamos ao balcão, nos olhamos e caímos na gargalhada.
Realmente, ando fora de forma.
Republicou isso em Linhas Traçadas…Imagens…Um pouco de Mim…e comentado:
As primeiras paqueras quando se é recém separado não são fáceis. Por mais adultos que sejamos, acabamos nos comportando como adolescentes, como colegiais…
Olá , espero que esteja tudo bem , acredito que sim , estou aqui tentando comentar os posts , não consigo entrar para te seguir , mas adoroooooooo o que se passa em sua alma , o que escreve e excelente , sou amiga de fabio giorgi , obrigada
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Oi, obrigado pelo elogio. Sendo amiga do meu irmão, é minha também.