Inseparáveis

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reencontros II

Era um encontro de amigos de bairro que não se viam havia mais de trinta anos, gente que se conhecia desde a infância, com raízes tão profundas que, em alguns casos, até os avós tinham sido vizinhos e amigos. Naqueles anos de juventude, passaram de tudo um pouco juntos e criaram laços fortes demais para se desfazerem, mesmo passado tanto tempo. A vida havia levado cada um para um lado. Como costuma acontecer, tinha pregado suas peças em alguns e, por vezes, maltratado outros.

Alguém tomou a iniciativa – em todo grupo há sempre um integrante com espírito de organizador – e acabaram todos comprometidos com a reunião. Criou-se até um slogan: “Nada de tristeza”. No fundo, havia o desejo em comum de remontar o quebra-cabeça de um período importante e inesquecível. Cada um representava um pedaço da vida do outro. O que todos mais queriam era recuperar o espírito desarmado dos tempos de criança e da adolescência, da época das experiências que ficam para sempre.

Os quinze dias que antecederam o encontro foi um período de grande troca de mensagens com confirmações, saudações, brincadeiras antigas e isso trouxe uma grande excitação em todos. Como se a empolgação daquela época passada, cheia de descobertas, decepções, amizades e amores eternos tivesse sido resgatada. Do grupo original, de quinze pessoas, só haveria uma ausência, um dos amigos que já falecera. Mas todos estavam certos de que onde quer que ele estivesse, estaria olhando e zelando por cada um.

No grande dia, alguns apareceram acompanhados pelas famílias. Outros trouxeram um namorado ou namorada. Uns poucos foram sozinhos. O local escolhido foi a varanda de um restaurante à beira-mar, em um canto tranquilo da cidade.

Exclamações, alguns gritos, tapas nas costas, abraços apertados, apresentações, expressões de susto, de alegria e muitas, muitas risadas. Todos pareciam imbuídos do lema “nada de tristeza”.

Um fim de tarde e noite ótimos, muita conversa boa, e sempre que alguém puxava um “Lembra quando?”, a gargalhada era geral.

Até os recém-chegados, aqueles foram apresentados na ocasião, participavam, ora concordando com as características e manias que se acentuaram com idade ou manifestando surpresa.

— Isso eu não sabia.

Por trás de tudo, havia sim trocas de olhares.

(Como teria sido se aquele namoro continuasse?)

Havia abraços sinceros.

(Por que nossa amizade esfriou? Precisei tanto de boas palavras amigas!)

Havia sorrisos de cumplicidade de segredos bobos mas fundamentais para aquecer o coração

(Havia sinceridade entre nós. Procurei isso em outras pessoas e não encontrei.)

As horas se passaram e eles foram se despedindo com promessas que nunca seriam cumpridas, juras feitas para serem esquecidas no amanhecer do dia seguinte. Mas aquelas horas foram verdadeiras e serão guardadas juntos com as fotos que exibem muitos sorrisos largos.

A vida tem esquinas, becos, lugares claros e escuros, mas por vias diversas, as coisas certas acontecem. Sempre fica o benefício da dúvida sobre se teria sido melhor se determinados eventos tivessem sido diferentes. Mas revisitar o passado com amigos é mais gostoso e ameno, e justifica o presente. Somos os responsáveis por todas as nossas escolhas.

O que passou, da maneira que foi, aconteceu como poderia ser naquele momento. É preciso viver com isso e tentar buscar algo adiante. Se vai ser bom ou não, dependerá de novo de decisões imediatas e do que se apresentar na hora.

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