Fui convencido durante um jantar a me juntar a um grupo numa viagem pela Alemanha e Áustria, onde ficaríamos mais tempo para esquiar. Era uma oportunidade para conhecer e aprender um esporte, mas confesso que a empolgação pelo esqui não era assim tão grande. Os tempos andavam meio esquisitos. Collor ganhara as eleições e a inflação estava em 80% ao mês. Mas passar o Natal e Ano Novo fora poderia ser legal, uma bela espairecida.
As paisagens de inverno são sempre muito bonitas em cidades pequenas nas montanhas. Ficamos numa delas, chamada Hoch Fügen. A experiência com o esqui foi desastrosa. Depois de dois dias de muitos tombos, de comer muita neve e ficar com dificuldades para sentar e andar, resolvi que preferia fazer turismo e deixar o esporte para quem levava jeito. Depois de explorar os arredores, nos aventuramos a viajar para um local a 120 quilômetros dali. Era uma estação de esqui encarapitada no topo de uma cadeia de montanhas que faz parte dos Alpes.
Para chegar lá pegamos um trem que subia por dentro da montanha até atingir os 3.200m. É um funicular inaugurado em 1974 que é puxado por cabos. Para quem tem claustrofobia, é uma tortura. Pedra de um lado e de outro e somente um lugar onde ocorre o cruzamento entre o que desce e o que sobe a montanha. O trem em ascensão faz uma parada de três minutos. O trajeto é feito em aproximadamente meia hora.
Durante toda a viagem havíamos colecionado paisagens novas e inimagináveis para nós, brasileiros. Mas no momento em que chegamos ao topo, todos perderam o fôlego, talvez pela altura e pelo frio que fazia, mas também pelo visual impressionante que se abria diante de nós. Uma brancura que refletia o sol até doer nos olhos, uma vastidão nevada que se estendia para além de onde a vista podia alcançar, circundada por cumes. Alguns, os mais pontiagudos, por vezes escapavam da camada branca e varavam um céu azul de anil.
Poderia até plagiar Roberto e dizer que “foram tantas emoções”, mas a verdade é que fiquei mudo por longos minutos, alheio a quem estava ao meu lado ou perto de mim. Pareceu-me muito importante contemplar aquela paisagem sozinho, sem me incomodar com nada nem com ninguém. Era uma emoção só minha, que talvez eu quisesse comentar depois. Mas isso não importava.
Depois de quase meia-hora é que fui prestar atenção no pessoal que esquiava, nas instalações gerais da estação. Fomos tomar um café bem quente, misturado com snaps para aguentar o frio que fazia e descobrir como seria a descida.
O trem demoraria quase 45 minutos para chegar. O grupo decidiu descer por um teleférico – fui voto vencido. Enquanto as pessoas se extasiavam com a paisagem, eu não conseguia apreciar nada. Minha fobia de altura impedia que eu visse qualquer coisa. Mas a visão que tive no topo permanecerá comigo para sempre.
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