Antônio ou Valentim?

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Namorados II

Fazia um frio de cinco graus negativos, ainda era noite fechada em Nova York mas eu enfrentava o inverno e me dirigia ao aeroporto em nome de uma boa causa. Minha mulher chegava à cidade para passar uma temporada de quinze dias a meu lado. Já fazia três meses que não nos víamos. Nós ficaríamos hospedados em um dos melhores hotéis da cidade. Era fevereiro, e por coincidência passaríamos juntos o Valentine’s Day, equivalente ao nosso Dia dos Namorados, quando se celebra o mártir da igreja católica que perdeu a vida por contrariar as ordens do imperador romano e selar uniões de casais apaixonados. Para falar a verdade, sempre tive certa implicância com a comemoração brasileira do dia 12 de junho, inventada por comerciantes paulistas na década de 1950.

Mas não estava pensando nisso quando cheguei ao aeroporto JFK com um belo e caro buquê de flores – era inverno e ainda por cima quase de madrugada – e me dirigi à área de desembarque dos voos vindos da América do Sul. Li no painel de informações que o avião já estava no pátio.

Apesar dos catorze anos de casado, me senti nervoso como se me preparasse para um primeiro encontro. Estava ansioso por revê-la, por tocar em seu rosto e encontrar aquele sorriso que me cativou de vez em uma festa de réveillon.

A porta se abria e fechava sem que eu pudesse ver se ela já estava do outro lado, esperando as malas. Obviamente devia estar, mas minha ansiedade era tamanha que cheguei a imaginar que ela talvez não tivesse embarcado!

Eu já estava esticando o pescoço por trás dos motoristas que aguardavam brasileiros ávidos por compras e por ver O fantasma da ópera, quando ela apareceu com um enorme sorriso. E que abraço bom!

Não consegui perguntar muita coisa nem entregar o buquê. As flores quase se amassaram. Foram muitos beijos de saudade, de tesão e de felicidade. Falávamos sem parar, quase sem escutar um ao outro. Nem mesmo o frio intenso a incomodava. Tudo o que eu pensava era em como tinha conseguido ficar tanto tempo longe dela.  Ao mesmo tempo achava que aquele momento estava sendo uma dos melhores de toda minha vida.

Nas duas semanas que se seguiram, passamos dias maravilhosos. Pude mostrar-lhe a cidade que eu conhecia e admirava, conversar sobre o trabalho e os progressos profissionais, enquanto ela me contava das meninas, de como sentiam saudade e tinham até pedido para ter fotos minhas em seus quartos. Dei-me conta de que fazia uma contagem regressiva para o dia de seu retorno ao Brasil.

É claro que eu já havia pensado em fazer alguma coisa legal no Valentine’s Day, além de lhe dar um presente. Ela não estava muito preocupada com a data. O que queria mesmo era aproveitar os dias menos frios para andar na rua. Foram muitos jantares românticos, cafés da manhã no quarto e muita risada. Rir, aliás, é o melhor termômetro de um relacionamento. Pessoas alegres espantam tudo de ruim e isso nós fazíamos muito bem.

No dia de São Valentim abriu um belo sol e, apesar do inverno, a cidade ficou colorida. Os transeuntes faziam saudações e desejos de felicidade, enquanto nós passeávamos de mãos dadas, como adolescentes, vendo o movimento e a vida passar. Trocamos presentes, mas mais do que isso, trocamos olhares, lágrimas e sorrisos. Foi o melhor dos Dias dos Namorados, sem ser na verdade Dia dos Namorados. Aquele foi, na realidade, o dia de um namoro sem fim.

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