Mais um dia escaldante no Rio de Janeiro. O sol impiedoso e o ar quente chegam a produzir miragens nas areias do Posto 9, em Ipanema. Duas moças bonitas, dessas que são tão bem cuidadas que fica impossível adivinhar a idade, demarcam seu território com cangas e começam a armar uma autêntica farofada, coisa que anteriormente seria mais característica do Piscinão de Ramos, mas que virou moda na zona sul.
— Tá confirmado o jantar de hoje?
— Por mim está, mas falta o Carlos Augusto dar o ok dele.
— Você trouxe sua cadeira.
— Claro! Onde já se viu pagar dez reais pelo aluguel? Custa quarenta no site das Americanas, dura um verão inteiro, e economizo muito.
— Obrigada por também ter trazido a barraca.
— Meu marido estranhou quando me viu saindo de casa com tanta tralha. Aí, expliquei que a barraca custou cinquenta reais e que alugar uma na praia está por 15 reais ao dia. Ele achou ótimo!
— E o que tem aí nesse seu isoporzinho?
— Eu trouxe água e mate.
— No meu tem cerveja. Ah, e trouxe uns salgadinhos na bolsa.
— Olha só aquela mãe pagando quatro reais pelo copo de mate feito com uma água que a gente nem imagina de onde vem! Coitada da criança! E ainda tem o mau exemplo do uso errado do dinheiro!
— Por isso é que abusam, tem gente que paga!
— Mas eu não tô dizendo, está vendo aquele cara de sunga azul? Ele pagou cinco reais pela cerveja! Estou quase indo vender a sua por quatro.
— O Rogério garantiu que os preços no Rio vão continuar assim até a Copa.
— Meu Deus! A Copa! A praia vai ficar insuportável, mesmo em junho e julho.
— Vou cuidar muito bem da minha cadeira e da minha barraca até lá.
— A melhor coisa é você pedir pra sua empregada lavar sempre que você chega da praia.
— Boa ideia.
— Olha só, meu marido mandou um whatsapp confirmando o jantar.
— Que ótimo! Estou morrendo de saudade do risoto com tinta de lula do Fasano.
— Nem me fale!
— Menina, olha só aquilo!
— O quê? Um chicabon a 7,00? O senhor enlouqueceu?