— Dá um “pause” no filme. Vou na cozinha pegar alguma coisa para comer. Quer uma Coca, uma pipoca, um doce…
— Nada não, obrigado amor.
— Nossa! Coca, pipoca, chocolate e pingo de leite…
— Assim eu me distraio, o filme é longo…
— Quando foi que você comprou pingo de leite?
— Eu não comprei. Estava no armário, me deu saudades de comer e eu peguei.
— Mas não compro pingo de leite desde que eu tenho oito anos!
— Sei lá, estava no armário…
— Me dá um gole da Coca?
— Não! Você disse que não queria, não vai tomar da minha!
— Só um gole, para molhar a boca…
— Molha com saliva ou vai buscar!
— Grosso, mal educado…
— Perguntei se queria, falou mal do que eu trouxe, ficou desconfiada de quem comprou o pingo de leite e eu que sou grosso? Vai entender…
— Quem é Marizete?
— Quem…
— É! Agora você ganha caixa de pingo de leite com dedicatória ao lado da vaquinha da embalagem? Vai comer tudo de uma vez, sem refrigerante pra rebater!
– Pera aí…não…calma…
***
— Para com as fotos!
— Só mais uma. Você está linda!
— Não fala bobagem! Já tá enchendo!
— Uma de perfil…
— Olha aqui: estou com quinze quilos a mais, meu nariz alargou e parece uma mina chinesa de carvão, minhas pernas estão inchadas e lembram as vigas desaparecidas da Perimetral, meu apetite é de um filho adolescente de pedreiro, para me ver nua preciso de dois espelhos e você faz cara de apaixonado. Acho que vai mostrar essas fotos para a outra, para ficarem rindo de mim!
— Não existe outra, toma a câmera, apaga se quiser. Eu só fiz algumas fotos mais espontâneas para melhorar seu humor. Vou repetir o que todos dizem: gravidez não é doença, falta pouco para chegar a menininha com quem sonhamos.
— Você tá certo. Ando muito mal-humorada nessa reta final. Vou melhorar.
— Ótimo. Assim você para de comer três caixas de Bis de sobremesa…
— Filho da…
***
— Quanta saudade senti de você!
— Amor, não exagera! Foram só dois dias!
— Poxa, onde está o romantismo? Depois você pergunta doze vezes se ainda te amo.
–Tá bom! Desculpa, fui até grosseira. Mas para falar a verdade, gostei mesmo foi do abraço.
— Eu também. Faz tempo que a gente não se abraça assim, colado e demorado.
— Faz tempo que não rola um monte de coisas. Por quê?
— Eu poderia apelar para as respostas de sempre, mas acho que vou ficar com a verdade. A gente anda realmente longe um do outro.
— Por quê?
— Acho que a questão não é essa e sim o que temos que fazer para voltar a ficar próximos.
E a vida segue!