Ele namorou quem quis. Sempre foi galante, bem falante. As mulheres, antes de tudo, o achavam charmoso. Bonito com certeza não era, mas tinha seus momentos. Sabia se vestir, tinha bom humor e gostava de dançar. Sempre gentil com as mães das namoradas, era o “genro que eu queria” como elas diziam sempre.
A fama o precedia. Por isso não estranhou a provocação de uma amiga.
— Tem alguém que você precisa conhecer. Essa vai ser um desafio. Acho que não vai cair nos seus “papinhos”. – A amiga riu e o deixou curioso.
— Quando eu vou conhecê-la?
— Amanhã, na minha festa de formatura. Você vai, né?
— Agora mais do que nunca…
Era uma noite de temperatura estranhamente baixa para abril no Rio de Janeiro. Com casaco nas costas, ele já imaginava que seria chamado de “coxinha” e “paulistinha” pelos amigos, mas não ia passar frio. Ao chegar, pegou logo uma vodca com gelo e seguiu para dar parabéns para a amiga, a mais nova arquiteta da cidade. Ao tentar abordá-la, levou um esbarrão tão forte que seu copo caiu no chão:
— Obrigado – disse com ironia — o bar tá mesmo vazio. Daqui a umas duas horas eu volto.
— Desculpe realmente não te vi…
O diálogo foi interrompido pela amiga.
— Já vi que já se conheceram!
— É. Mais ou menos.—disse ele, reticente. — Parabéns!
— Lindas as flores que você mandou. Obrigada. Minha mãe adorou e veio com aquele papo de namoro e blá, blá, blá.. Você conhece a peça.
— Esse é seu amigo galã?
— Ele não é galã. Talvez seja conquistador por esporte, mas é diferente de outros. João Luis, essa é a Clara, e vice-versa.
— Nenhum conquistador é diferente!
— Prazer em te conhecer também. Quer dançar?
Um sorriso de quem ficou um tanto quanto desconcertada e um “sim” dado com pouca convicção.
Depois da terceira música, ela fez sinal de que estava com sede. Os dois foram tentar algo no bar. Depois de uns vinte minutos, ele chegou com a caipirinha dela e uma nova vodca, que esperava beber desta vez. Muito educada e elegante, bonita e charmosa sem fazer esforço algum, ela era falante, com opiniões sobre tudo e dura na defesa de seus pontos de vista.
— Há quanto tempo conhece a Juliana?
— Estudamos juntas num colégio de freiras por uns cinco anos, e você?
— Fizemos inglês juntos e depois intercâmbio na mesma cidade, perto de Londres.
— Já namoraram?
— Não. Passou do tempo. Virou amizade.
— Sei como é.
— E você, faz o quê?
— Me formei em direito na semana passada. E você?
— Engenharia, ano passado, mas trabalho em outra área.
— Gosto dessa música. Podemos dançar?
— Só se for de rosto colado…
— A Juliana tem razão. Absurdamente abusado, deliciosamente charmoso e totalmente convincente…
— Nossos filhos podem ser assim e também lindos como você…
Nunca mais deixaram de dançar. Sempre de rosto colado.