Vai ser só um bolinho!

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Festa_de_Criança_IV

As festas de aniversário da minha infância, lá pelos sete ou oito anos, eram na casa da minha avó, com sanduíche misto-frio, Coca-Cola, Guaraná e brigadeiro. O bolo era ESPETACULAR, feito pela Maria, empregada da minha avó, de chocolate com cobertura de brigadeiro. Os convidados eram os amigos do bairro e a família, só isso. Teve uma grande comemoração, não lembro exatamente quando, com direito à projeção de desenhos animados do Tom e Jerry. Foi bom demais.

Damos um salto então até os anos 1990, já em São Paulo, quando os bufês começavam a se sofisticar, embora ainda apresentassem muita coisa politicamente incorreta como poodles amestrados e coloridos, coelhos e outros bichinhos da insuperável e cara, Tia Caramelo. São inúmeros e irrefutáveis os argumentos para lançar mão dos bufês nas festas infantis – a não ser para quem paga. Mas na classe média/alta paulistana, quem paga é um detalhe totalmente irrelevante.

Vivi essa experiência em duas etapas, primeiro com a filha mais velha e quatro anos depois com a caçula. Quando se tem alguém que participa ativamente da organização, não existe aquele sossego prometido pelas festas fora de casa. E isso sempre aconteceu comigo. Buscar os docinhos com D.Fulestreca no fiofó do Judas, trazer as bebidas para os pais porque o bufê não servia uísque, encher os balões com gás helio:

— No lugar x na travessa daquela rua que tem aquela loja…

— Sim claro, entendi tudo.

— Não se esquece de pedir ao motorista de táxi seu amigo para buscar meus pais na casa do meu irmão.

— Sim, claro, entendi tudo.

Festa_de_Criança_II

Em São Paulo, essas festas, mesmo quinze anos atrás, eram um acontecimento com dezenas e dezenas de participantes, sendo as crianças a minoria. Os convidados são divididos entre a família – no meu caso, os parentes se deslocavam do Rio de Janeiro para lá; as mães das crianças que eu não conhecia; pais e mães de crianças que eu conhecia, e as babás. Ninguém sonhava com a PEC das Domésticas. Vejam bem: era uma criança ou, no máximo, duas para cada dois ou três adultos.

OK, os tempos mudaram, mas fui testemunha e patrocinador de algumas festas infantis, que pensando bem hoje em dia, foram coisas sem muito propósito. O que valeu foram as carinhas das minhas filhas.

Voltando a minha descrição, se o bufê contabilizava 100 pessoas, havia entre elas, no máximo 25 crianças. Vendo as filmagens, sim, com cabo-man e tudo, fico assustado com o exército de babás que comiam como se aquela fosse sua última refeição e consumiam hectolitros de refrigerantes. Os pais e mães, por sua vez, bebiam de fazer corar PMs da Lei Seca. Ainda bem que nada aconteceu com ninguém na saída desses eventos que começavam às 17h e terminavam às 22h.

Porém, havia o segundo-tempo, em casa, com a família, e mais um ou dois casais mais íntimos. Novamente, comida e bebida. Aqui cabe uma observação. Em São Paulo, o bufê tinha que demonstrar fartura, levávamos para casa, caixas e caixas de salgados, doces e bolo. As crianças ficavam loucas para abrir os presentes. Nesse momento, os parentes mais velhos se assustavam e chegavam a comentar:

— Com esses presentes, a festa já foi paga…

Comentário maldoso, mas de certa forma uma realidade do momento, dos meus pares no mercado financeiro e da minha posição profissional naqueles períodos.

Não posso dizer que me arrependo, mas hoje teria outra visão sobre comemorações, mas envolvido naquela situação, considerava normal todo aquele “teatro social”. Também fui convidado para outras dezenas de festas e percebia a competição silenciosa, dura e patética das mães, com financiamento dos pais que deveriam receber ajuda do BNDES para fazerem mais a cada comemoração.

Os tempos mudaram. Os bufês estão diferentes, possivelmente de uma forma melhor do que no tempo em que minhas filhas eram protagonistas.

Sem dúvida em relação aos meus tempos de criança, mini-pizzas, mini-hamburgers, mini-hotdogs, e muitos doces são um avanço maravilhoso, mas a música no último volume e algumas brincadeiras são de causar vergonha alheia. Ainda bem que a Xuxa não é comanda mais o hit-parade.

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Sem comentários

  • Neuda disse:

    Ostentacao eh pecado capital na Australia. Aqui as festas de aniversario sao de dar vergonha (se comparadas comas brasileiras). Geralmente se convida somente os melhores amigos da escola, muitas vezes sendo drop-off. Quando os pais sao bem vindos tambem a melhor tatica eh comer antes de ir, porque senao se passa fome. O cardapio geralmente eh: salgados congelados comprados no supermercado, pao de forma com manteiga e vegemite, pao de forma com queijo e presunto, pao de forma com manteiga e acucar granulado colorido/ sprinkles (hundreds and thousands in Australianes). E bolo geralmente comprado na padaria! As vezes, quando os pais da festa sao um pouco mais organizados, tem dips, sourdough e uma rodelinha de queijo brie. Isso quando eles nao inventam de fazer a festa num parque e o esquema eh BYO (bring your own) comes e bebes. O meu casamento foi num parque florestal e o ‘dress code’ foi havaianas e bermudas. Ha! Minha mae quase teve um enfarto quando falei pra ela dos meus planos! Beijao Maurinho!

    • maurogiorgi01 disse:

      Você lembra bem como era São Paulo dos anos 90, ainda mais o mercado financeiro daquela época. Hoje eu faria o oposto, talvez não como aí na Australia, mas completamente diferente do que fiz. Bjs

  • Oscar Rodriguez Barreneche disse:

    Mauro, gostei muito do seu artigo! A ostentação é algo abominável! Na Venezuela, por exemplo, antes da chegada do Ditador Chávez, as festas de casamentos na classe média alta eram classificados da seguinte forma. Menos de 500 convidados: “casamentinho”. De 800 a 1000 convidados: uma festa normal tendendo a boa. Só seria considerado um grande casamento se o número de convidados ultrapassasse os 1200. Uma porcentagem importante dos convidados era desconhecida para o noivo, a noiva, ou ambos. Quanta ostentação! Veja onde foi parar a Venezuela …

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