Embora pareça prosaico, a ida ao supermercado é um tema capaz de causar polêmica em qualquer roda de conversa. Não há meio-termo: ame ou deixe-o. É um assunto complicado quando envolve marido e mulher, e pior ainda com alguma criança no meio.
A primeira coisa a fazer é classificar o supermercado. Não por preço, porque se fosse assim, como disse o fotógrafo Leo Aversa, autor do blog Tonto Mundo (http://tontomundo.com.br), o Zona Sul já teria fechado as portas, pois acha que vende ouro comestível. É o estacionamento que encabeça essa classificação e agora vou falar um pouco das diferenças entre o Rio de Janeiro e São Paulo.
Na capital paulista, supermercado ganha esse nome quando tem estacionamento e vira hipermercado quando tem muito estacionamento! Aqui no Rio, bastam quatro vagas na calçada oposta e já temos um supermercado, como acontece com o Zona Sul da Urca. Porém, ao entrar no estacionamento de um supermercado, você tem a nítida impressão de que seu carro cresceu em comprimento e largura e se tornou incapaz de caber em nenhuma vaga. Se conduzir um super-mega-hiper-blaster caminhão blindado e escuro como o Caveirão do BOPE, esqueça. É melhor esperar que apareçam duas ou três vagas contíguas.
Você estaciona e parte para as compras. O consumidor é dividido em três categorias: os que vão com lista e a cumprem; os que vão sem lista, mas juram que sabem de cabeça o que devem comprar e normalmente esquecem papel higiênico e sal, deixando a casa em pé de guerra ao voltar, e finalmente aqueles mais honestos, que têm uma lista que nunca seguem, pois gostam de novidades, embalagens diferentes, coisas que não servem para nada e temperos que jamais serão usados. Esses são amados, idolatrados — salve, salve — pelos donos dos estabelecimentos.
A estrutura física de um supermercado deve ser devidamente vistoriada antes das compras, pois a disposição dos produtos varia de um para o outro. Depois de um tempo frequentando sempre o mesmo, entrar em um estabelecimento diferente faz você se sentir em um labirinto. Os truques usados são vários. O que mais me irrita é estar na área de produtos de limpeza e, na esquina de dois corredores, esbarrar com uma promoção de molho de tomate. (Em São Paulo, aliás, os corredores são chamados de “alamedas”). Você põe o produto em promoção no carrinho e obviamente esquece, concentrado em outras coisas. Quando chega à seção de massas e molhos, não tem jeito, pega a porra do molho de novo!
Ao se aproximar do setor de gelados e congelados, a temperatura cai de tal maneira que poderia haver uma banca para vender antigripais e vitamina C bem do lado. Mas vem uma pergunta: seria essa seção invariavelmente no início da visita, partindo do pressuposto de que, como eu, todo mundo começa o percurso pelo lado direito de quem entra? Claro que devo estar errado.
Também é claro que posso estar sendo cruel com pessoas que estudam profundamente toda a disposição de produtos e coisas do gênero assim. Elas são geniais, pois sempre compramos o que não devemos.
Um ponto importante: qualquer revista idiota que disser que o supermercado é local para paquerar ou para encontrar descasados(as) está cometendo um crime! Não sei quais são os lugares frequentados pelos autores desses artigos, mas com certeza não são os mesmos que os meus.
Os personagens são hilários. Existem os hiperorganizados, com os produtos de limpeza em carrinho separado, ensacados um a um, enlatados em outro na parte de baixo, cuidadosamente arrumados. Quando olho isso, tenho certeza: é um caso de TOC! Existem os bagunçados, que vão jogando tudo dentro do carrinho, param no meio do corredor, vão do outro lado, voltam, não sabem mais onde deixaram as coisas, pegam o carrinho dos outros esbarram nas pernas de todos, enfim, não estavam nem um pouco a fim de estarem ali. E existem os “espertos”, espécime humana derivada como todos do “homo sapiens” mas que em algum momento da educação, da formação na juventude ou na maturidade, sofreu uma mutação genética. Eles proliferam neste tipo de ambiente. Atuam em dupla ou até trinca, esticam o braço na frente do seu rosto para pegar exatamente o que você ia pegar; desarrumam toda pilha para achar a sua pizza congelada preferida e deixa as demais sobre a pilha de nuggets; quando entram no estabelecimento, sempre cheio, um deles já vai para a fila, “para segurar o lugar”; às vezes carregam dezessete produtos no carrinho e vão para a fila de até quinze, espantam-se e dizem “que contaram errado”; abrem pacotes de amendoim ou biscoito, comem e deixam na prateleira; dão danoninho (aquele que vale por um bifinho) pros filhos e deixam no balcão do requeijão. Todo mundo conhece esses tipos.
Comparo o supermercado à praia. Ali somos todos iguais. Queremos mais e melhor e por menor preço. Sempre perdemos, mas ao chegar em casa e comer ou beber algo gostoso que compramos para o nosso prazer, esquecemos todos os pequenos aborrecimentos. Sabemos, resignados, que dentro de pouco tempo voltaremos para lá, e que, pelo andar da atual carruagem com o Mantega de cocheiro, os preços estarão mais altos.