A inflação da incompetência

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inflação I

Há quinze dias, ao escrever sobre a pressão que o governo se impôs para 2014 ( ver Panela de pressão), cheguei a tecer alguns comentários sobre a inflação, mas dei mais ênfase às questões relativas às contas públicas, externas e ao PIB.

Desta vez falo sobre o problema criado mais uma vez pela incompetência do governo e agravado pela seca histórica no Sul e Sudeste do país: a aceleração da inflação, que se aproximou do teto da meta em ano eleitoral.

Esse fenômeno econômico pode ocorrer quando há excesso de gastos do governo, acima de sua arrecadação, levando à desvalorização do dinheiro por emissão de papel-moeda ou pelo aumento da dívida pública sem contrapartidas (investimentos); pode ocorrer por crescimento da demanda em níveis superiores que a oferta pode suprir, levando o aumento de preços a se espalhar pela economia, e também pode ocorrer por um choque de oferta externo, isto é, um aumento de preços fora de controle provocado por desastres naturais ou aumento de preços de matéria-prima essencial importada. É o que ocorre quando acontecem catástrofes climáticas em determinadas áreas (como secas ou inundações), ou quando há elevações de preços de petróleo, por exemplo.

Em 2014, vivemos todos esses problemas de uma só vez!

Desde 2009, o governo abandonou o tripé macroeconômico de meta de superávit primário, perseguição ao centro da meta de inflação e câmbio flutuante como maneira de combater a crise mundial. Foi uma saída inteligente, mas como todas as “saídas”, não era um caminho e sim uma rota de emergência. As consequências de atos na economia podem tardar, mas não falham.

A gastança governamental desembocou na queda vertiginosa do superávit primário, que por si só já seria um fator de desconfiança. A contabilidade criativa desde 2012 fez enterrar a contribuição do governo ao controle da inflação. Este ano, as promessas feitas em fevereiro já foram quebradas e mesmo que se culpe a seca, o problema é bem maior.

preços

O incentivo ao consumo a partir de 2009 poderia ter tido um planejamento para que não se transformar em política econômica, já que em meio à crise econômica mundial, uma demanda acima da capacidade de oferta do país traria desdobramentos adiante. E eles vieram sob a forma do crescimento das importações, da perda de competitividade da indústria local, do aumento do dólar por procura de mercadorias externas e consequente desequilíbrio da balança comercial. A resposta aos primeiros problemas surgidos na indústria foi a desoneração atabalhoada de impostos, privilegiando alguns setores, e a redução das taxas de juros sem que a oferta de produtos e serviços mais uma vez estivesse equilibrada. Erros grosseiros. O governo cumpriu com louvor mais uma tarefa para facilitar que a inflação subisse.

O Banco Central, a partir do início de 2013, começou a elevar os juros, mas já correndo atrás do prejuízo, não mais prevenindo. Ou como se dizia antigamente, “ao sentir a água no umbigo”. Como se não atuassem juntos o Ministério da Fazenda reafirmou a política de subsídios aos combustíveis, furou o caixa da Petrobras e criou novo subsídio, ao baixar por decreto as tarifas de energia elétrica. O Banco Central “enxugou gelo” em 2013.

Como pá de cal, vem o fenômeno climático, uma seca recorde no Sudeste e parte do Sul do país, que pressiona os gastos com energia mais cara, algo impossível de repassar ao consumidor devido a riscos eleitorais e fez os preços dos alimentos dispararem. Não há elevação de juros que contenha essa inflação.

A bomba está armada e são muitos os circuitos integrados. Não basta que volte a chover.

O governo entrou sozinho nessa armadilha e sabe como sair, mas pode custar a eleição e até uma pequena recessão. Pessimista, eu? Posso até ser, mas já vi antes este filme em que figuram juros mais altos, energia e combustíveis mais caros. E nessa história, o reflexo no PIB costuma ser ruim.

 

 

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