Definir a felicidade dá samba. Vinicius de Moraes descreveu-a como “a pluma que o vento vai levando pelo ar; voa tão leve, mas tem a vida breve, precisa que haja vento sem parar”. O poeta nem perde tempo com explicações. Chama atenção para seu caráter fugaz e escorregadio. Os dicionários são mais comedidos e se satisfazem em dizer que é a mesma coisa que “ventura”, “bem-estar”, “contentamento”, o que convenhamos parece bem pouco. A dificuldade de chegar a um definição satisfatória e abrangente pode estar ligada ao fato da felicidade ser percebida de forma diferente com o passar do tempo.
Há quase oitenta anos, um grupo de pesquisadores de uma organização chamada Mass Observation pôs um anúncio num jornal britânico, o Bolton Evening News, pedindo aos leitores que definissem o que é felicidade. As respostas mais frequentes foram: segurança, sabedoria e religião. No ano passado, dois psicólogos da Universidade de Bolton repetiram a pesquisa no mesmo jornal, que agora se chama Bolton News. O resultado apareceu recentemente numa reportagem do Huffington Post (veja o link abaixo). Em primeiro lugar, veio o bom humor, seguido pelo tempo livre. Segurança passou a ocupar a terceira posição.
Os leitores de hoje em dia também passaram a associar felicidade a uma questão de sorte e enquanto seus antecessores se consideravam felizes na maior parte do tempo, nossos contemporâneos admitem que vivem seus melhores momentos nos fins de semana ou quando estão longe de casa. Antigamente, a pequena Dorothy, de O mágico de Oz só queria mesmo voltar para casa. Se vivesse nos dias de hoje, estaria de mochila nas costas, saindo de Oz e partindo para outra. Há 80 anos, o bem-estar parecia também estar associado à vida em comunidade e em família. Hoje em dia, seria uma conquista individual, ligada a um projeto de crescimento pessoal. Todo mundo concordou numa coisa, porém: não é possível comprá-la.
É possível que a busca da felicidade seja mesmo um fenômeno moderno. Acredito que nossos antepassados caçadores-coletores nunca pararam para pensar no assunto enquanto se escondiam de algum predador. Um artigo na revista Galileu revela que os psicólogos Ed Diener, da Universidade de Illinois, e Shigehiro Oishi, da Universidade de Virginia, fizeram um estudo com mais de dez mil participantes de 48 países e descobriram que a felicidade encabeça a lista dos projetos pessoais desejáveis, antes mesmo de ser rico ou ter um objetivo na vida. Ou seja, virou uma espécie de epidemia mundial.
Ninguém sabe ao certo o segredo para chegar lá. (O que é mesmo complicado quando esse “lá” pode ser tão relativo.) Há quem diga que, ao contrário do que costumam indicar os livros de autoajuda, a felicidade pode estar mais próxima daqueles que estão dispostos a correr riscos e sair da sua zona de conforto com alguma frequência, experimentar coisas novas, explorar possibilidades diferentes. Faz sentido. Pessoalmente, acredito que abençoados são aqueles que não se apegam aos pequenos detalhes e conseguem apreciar o todo. Por exemplo, o piquenique pode ser inesquecível para aqueles que não prestaram atenção na presença de formigas.
No final das contas, quem sabe não se trata de uma questão de jogo de cintura? Seria então a felicidade uma espécie de teste da nossa capacidade de ajustar expectativas, se adaptar às mudanças de rota e de seguir em frente com um sorriso nos lábios? Os psicólogos e os gurus podem continuar o debate. O que acho é que talvez seja até possível alcançar o nirvana de vez em quando. Difícil mesmo é permanecer indefinidamente por lá.
Aqui você pode ler mais sobre a pesquisa feita pelos estudiosos da Universidade de Bolton:
THIS IS WHAT HAPPINESS LOOKED LIKE
Mas tenho a impressão de que clicar nesse clipe aí embaixo pode deixar você bem mais feliz por hoje.
(Por Livia de Almeida)
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