– Natanael, quando é que você vai me levar para Miami?
– Um dia, Noemir, mas não agora.
– Por que você não quer ou por que torrou no Jóquei o dinheiro da nossa poupança suada?
– Noemir, eu nem gosto de cavalos. O que acontece é que lá nos Estados Unidos existe uma moeda chamada dólar que vale três vezes mais que a nossa. Então o mesmo cafezinho que eu tomo no Sebastião da esquina lá custaria quatro dólares, doze reais. Capito?- Enquanto isso, as minhas amigas tomam aspirina americana dizendo que é melhor que a nossa. Eu vou ter que ficar com inveja delas?
– A inveja é uma merda, Noemir, mas vai ser assim mesmo. Mas nós não temos dívidas e os tempos serão difíceis para quem se endividou. Quando o ministro Joaquim Levy conseguir convencer o Congresso e a dona Dilma, a inflação vai cair, os dólares entram no Brasil e assim nossa viagem pode se realizar, mas isso demora.
– Quanto tempo, Nata, eu vou ter que usar perfume da loja da esquina e elas os franceses?
– Não sei, mas pela bagunça feita pela dona Dilma no governo passado, deve demorar uns dois anos ou mais. E olha que você votou nela porque acreditou nas promessas.
– E eu ia lá acreditar no bonitinho que falava certinho? Mulher é quem cumpre o que promete.
– Desculpe Noemir. Temos que exportar mais, isto é, vender mais para os estrangeiros, e importar menos, comprar menos deles, Temos que economizar mais. Não vou ter aumento grande na firma este ano, já avisaram…
– E o meu vestido para a formatura da Cilmara?
– Vai ter que fazer em casa.
– Desse jeito acho nem vou fazer o jantar, pra economizar.
– Pôe a pastaciutta na mesa e vamos ver qual foi a trapalhada de hoje da dona Dilma. Liga a TV. Se você fizer tudo certo todos os dias, se eu não perder o emprego, se a Cilmara passar para uma faculdade pública e o Brasil recuperar a credibilidade, pode ser que eu faça uma surpresa para você.
– Que tal de credibilidade é essa?
– Aquilo que o Palmeiras precisa para ser campeão: que acreditem nele. O mundo não está acreditando em nós, Noemir. E isso é fundamental.