Friozinho gostoso

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Sorvetes V

Sim, os mais velhos estão com a razão. O Eskibon do passado, que vinha dentro de uma caixinha amarela, era bem maior do que o que se encontra por aí nos dias de hoje. Na infância, nos deliciávamos com os parcos sabores dos picolés da Kibon e das embalagens de papelão tamanho família com duas opções: Carioca (creme e chocolate) e Napolitano (creme, morango e chocolate). Na minha casa, as caixas não davam para a saída, pois todos nós adorávamos sorvete. Meu pai bem que gostava da cassata feita por minha avó e que levava pão-de-ló. Mas minha mãe, meu irmão e eu só queríamos saber do sorvete. Quando apareceram as latas de um litro, foi uma verdadeira festa lá em casa.

Aos nove anos, fui morar nos Estados Unidos. Na cidade em que ficamos, havia uma sorveteria que oferecia mais de quarenta sabores. Nos domingos, depois da missa e do almoço, nos divertíamos como se estivéssemos num parque de diversões. Na volta, porém, precisei me readaptar ao cardápio limitado e esperar até os anos 1990 para encontrar no Brasil as sorveterias famosas e os importados.

Com certeza já deu para perceber o quanto ainda sou alucinado pelos gelados. Infelizmente, a diabete me obrigou a reduzir quase a zero o consumo. Você provavelmente vai argumentar que existem os produtos da linha diet ou light. Lamento muito informar que até eles estão proibidos. Então tomo um por mês, mais ou menos e confesso que sinto uma ponta de inveja diante da enorme variedade de sorveterias e de sabores disponíveis para a geração de minhas filhas. Justamente quando não posso aproveitar toda essa fartura, parece que há uma verdadeira proliferação. Essas novas sorveterias são uma tentação mesmo quando praticam preços absolutamente inacreditáveis.

No Rio de Janeiro, os saudosistas lembram com carinho do Zero, na avenida Nossa Senhora de Copacabana, com o sorvete de calda de chocolate quente que endurecia ao esfriar, uma grande novidade na época. Em Ipanema, o Morais fazia sucesso com seus sorvetes de fruta, assim como o Alex, que voltou a funcionar. Para mim, esses lugares serviam mais como ponto de encontro. O que ofereciam não seria páreo para o que existe atualmente. Aos poucos houve avanços com o aparecimento de novas tecnologias e sabores. Não se pode esquecer, por exemplo, o Cornetto, da Gelato, com uma das melhores propagandas televisivas da época. Mas a grande virada só foi possível com a importação de boas e novas máquinas e com a melhoria na qualidade dos ingredientes, o que só aconteceu na metade da década de 1990.

Aqui no Rio, na disputa pelo paladar e no “assalto” do preço estão as tradicionais e sobreviventes Sorvetes Itália e La Basque ao lado da Haagen Daz e Mil Frutas, já com alguns bons anos de serviços prestados, com o reforço recente da Vero, Venchi, Freddo e Bacio di Latte, o que é uma covardia, um suplício e uma prova de amor próprio o mero ato de resistir a tentação de não tomar pelo menos um por dia. E a competição na categoria picolés tem o Diletto e, algumas vezes no verão, a marca paulistana Rochinha. Um verdadeiro acinte para quem não pode. A Kibon e a Nestlé, que aposentou o nome Yopa, resistem bravamente e têm feito melhoras grandes.

Na praia, tem dias em que me dá vontade de escolher um daqueles sabores tradicionais da minha infância e adolescência, como Chicabon, uva, limão ou coco. Era tudo o que havia naqueles tempos e a gente adorava. Chego a me perguntar se essa saudade não seria um sintoma de velhice. Que seja. Não mato e não morro por um sorvete, mas chego bem perto disso.

Sorvetes I

 

 

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