Antes de falar bem ou mal da Petrobras é importante observar cinco pontos atuais que afetam a empresa diretamente.
– A empresa projetou um aumento de 7% na produção para 2014. Esse aumento seria apenas o suficiente para que a produção voltasse ao nível de 2010. No entanto, até setembro deste ano, ela havia crescido apenas 3,7%. A direção da Petrobras insiste que alcançará suas projeções com uma “tolerância” de 1% para mais ou para menos. O que significa, na prática, não alcançar o aumento desejado? Quer dizer que, apesar da área de pré-sal atingir cerca de 400 mil bpd, batendo recordes mensais, a produção de poços mais antigos cai mais rápido do que o estimado. Esses dois vetores encarecem os custos.
– A extração do gás de xisto, o aumento de produção da Arábia Saudita, a volta do Iraque ao mercado exportador, a possibilidade da saída dos Estados Unidos do mercado importador e a perspectiva de menor atividade econômica na Europa e China derrubaram os preços do barril de petróleo para o intervalo de 84/ 88 dólares contra 115/118 dólares de um ano atrás. Países como a Venezuela, que tem 90% das receitas do estado provenientes da exportação de petróleo, podem ser tentados a exportar mais e criar um circulo vicioso. O petróleo do pré-sal precisa de um preço de venda em torno dos 60 dólares para se pagar. Momento de apreensão quando a curva de investimentos mais se inclina.
– A Petrobras perdeu entre 16 e 19 bilhões de dólares com a política de preços para os combustíveis praticada pelo governo para conter a inflação. São recursos que reduziram o caixa da empresa e que não serão repostos. A queda do preço do barril de petróleo ameniza o problema mas não soluciona, pois o dólar apresentou alta de 15% diante do real, deixando a diferença entre preço de internação e preço de venda ao consumidor em 6% contra quase 20% que esteve nos piores momentos.
– O fortíssimo programa de investimentos da Petrobras até 2018 de 221 bilhões de dólares com o caixa sacrificado, com a política de preços incompatível com estes investimentos, com um endividamento que chega a 170 bilhões de dólares, uma geração de caixa insuficiente para remunerar acionistas, manter investimentos e reduzir endividamento, faz com que a empresa acenda uma luz amarela diante da queda do preço do barril de petróleo. A se manter esse valor por mais de seis meses, o programa de investimentos deverá ser revisto. Já antevendo isso a Moody’s reduziu a nota de classificação de crédito da empresa em função da equação de difícil solução sobre o endividamento.
– Seria muito importante que a Petrobras pudesse vir diante de seus acionistas e colocar a situação de maneira clara. Mas suas atuais amarras políticas a impedem de reduzir investimentos, reclamar dos preços de venda dos combustíveis e alterar a necessidade de percentual de 70% de conteúdo local de equipamentos encomendados e utilizados. Com isso o futuro próximo tem comprometimento financeiro perigoso e o futuro não tão próximo, um resultado operacional e econômico incompatível com o tamanho e importância da empresa.
Cada um deve e pode tirar suas conclusões. Porém é proibido usar a frase do momento: “Eu não sabia”.