Sangue nos olhos

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Protests around Maracana

Boa parte da classe média, no início da década de 1960 costumava manifestar sua indignação, protestar, participar e acatar diferenças de posição mesmo quando os debates eram acalorados.. Depois de décadas em que foi espremida do ponto de vista econômico e político, recuperou seu status nos últimos anos, mesmo que apenas pela via do consumo. Mas a “caixa de indignações” não foi esquecida. Ao longo dos anos, quantas foram  as máfias, as turmas, as laias inocentadas ou beneficiadas por julgamentos tão protelados que acabaram prescrevendo?

Os protestos de rua não são violentos, salvo à participação da “nova turma” dos Black Blocs, já desacreditada. Na imprensa, porém, e no âmbito das redes sociais, as manifestações assumem tons quase coléricos.

Existe uma imensa indignação com os poderes. Com o Poder Legislativo, as diferenças são tão grandes que dificilmente os laços de confiança serão totalmente refeitos. Até porque este a cada dia nos presenteia com algo degradante. Com o Poder Judiciário, se reclama de algo herdado dos tempos do Império, a prática de uma justiça firme e forte para os pequenos e cheia de subterfúgios para os grandes. Ninguém acredita em quase nada e reivindica o a devolução  dos meses trabalhados só para pagar impostos. A vontade de derrubar o que estiver pela frente é compartilhada por muitos, mas cada um vê um inimigo diferente. Neste momento, vejo o Poder Executivo.

O momento em que os dois principais antagonistas da cena política brasileira se juraram de morte é muito difícil de determinar. No entanto, em plena democracia, observamos um clima de impressionante beligerância entre o principal partido no governo, o PT, e seu principal adversário, o PSDB. O que sei com certeza é que a  turma do “deixa disso” é 100% composta pelo PMDB, que me parece o partido que melhor entende o país e seu povo, isto é, “deixa como está, para ver como é que fica”.

Esse clima hostil é tão estranho para todos, que muitas vezes levou a  uma paralisação de atos e regras em prol do país, como se cada um dos lados tivesse a soberba de se achar dono da única fórmula de fazê-lo crescer e promover o bem-estar para a  população.

As eleições diretas com baixo nível de propostas, caracterizadas por tentativas de rotular cada uma das partes, acirram as diferenças em vez de enaltecer as semelhanças para que tenhamos programas de longo prazo.

O país, desde o impeachment do ex-presidente Collor, vem aumentando gradativamente o fogo dos debates ideológicos, com fatores às vezes cômicos, como o atual viés estatizante do governo PT, semelhante ao da  ditadura que ele tanto combateu na década de 1970, e o viés liberalizante do PSDB, de tantos militantes exilados pela mesma ditadura.

Essa polarização, que em muitos momentos faz com que cada lado peça sangue à justiça, tem um lado positivo – se é que pode ser considerado positivo o desejo de se fazer justiça com as próprias mãos. Apareceram definitivamente novos postulantes a lideranças, buscando alternativas de programas, mas principalmente levando em consideração o que já foi alcançado a duras penas.

É de se louvar o Estado de Direito e o respeito às leis, aos trâmites e às súmulas em todos os tribunais, em todas as instâncias. No entanto, ao se deixar claro para a a população que tais procedimentos não estão acessíveis a todos os cidadãos, os ânimos se acirram, especialmente diante da perspectiva de que nomes poderosos dentro dos dois principais partidos possam se livrar de uma condenação. Assim surgem confrontos absolutamente sem propósito, pois nada de diferente do que está na lei foi feito. O que existe, de fato, é uma afronta à indignação do cidadão comum e a seu desejo de interceder de alguma maneira na mudança de determinadas regras.

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