Dessa vez fui com decisão. Dei a volta na pista de dança, mas ainda não sabia o que dizer para ela. Quando cheguei ao balcão de bebidas, ela se virou e disparei:
— Você vem sempre aqui?
Imediatamente fiquei vermelho. Que pergunta mais clichê e totalmente sem noção!
A gargalhada dela foi tão sonora que pareceu abafar o som alto da música.
— Gosto de caras com senso de humor. Você ganhou um bônus e pode fazer mais uma pergunta.
Um misto de alívio e susto. Rapidamente, considerei pedante a resposta. Ela tinha me chamado a atenção desde que eu havia chegado naquela festa, mas agora o que eu queria era sair daquela situação.
— Quer dançar?
— E a bebida?
— Depois peço outra pra você.
— OK
Eu gosto de dançar olhando para a pessoa. Ela olhava para baixo, admirando seus próprios movimentos. Difícil sair daquela situação. A música foi acabando e antes de emendar na próxima, falei ao seu ouvido.
— Vou pegar a sua bebida.
— Nossa! Que perfume bom! Gosto de homem perfumado.
— Obrigado!
— Está aqui outro uísque com um pouco de água e gelo.
— Você reparou no que eu bebia tão rápido assim?
— É… Vou buscar alguma coisa para mim.
Era minha chance de dar um “perdido”, mas bateu remorso. Voltei.
Ela conversava animada com outro cara.
Pensei alto:
— Então sem remorso.
Fui andando para longe da música.
— Escolha errada.
Virei-me para ver quem falava e se era mesmo comigo. Um rosto comum, uma roupa comum, um sorriso comum, uma voz comum, um perfume comum. Não consegui encontrar o que dizer. Ela insistiu:
— Ela não quer ser escolhida. Quer escolher. As pessoas podem ser divididas assim, não acha?
Ainda sem resposta, eu procurava entender o que me atraía naquela mulher.
— Mais ou menos como caça e caçador? – perguntei timidamente, tão baixo que ela mal pôde escutar.
— Não! A caça foge e o caçador só quer a conquista. Eu falo de escolher as pessoas que se quer por perto ou de ser escolhido por alguém que não se quer por perto.
— Não entendi muito bem, mas aceito o argumento.
— Paulinho da Viola…
Comecei a rir. Gostei da resposta e tudo aquilo que achei comum se tornou diferente.
— Então você me escolheu?
— Claro! Quase me decepcionei com você, mas percebi que estava desconfortável.
— Muito desconfortável. Aliás, desconfortável demais.
— Quer dançar?
— Vamos.
Ela olhava para mim e sorria. De repente, minha vontade era beijá-la até jogarem água fria na gente.
Até hoje ela me olha nos olhos, sempre. E é deliciosamente, extraordinariamente comum.