A Petrobras divulgou com grande estardalhaço o seu resultado anual, um lucro de 23,57 bilhões de reais engordado porém pela venda de ativos, especialmente no exterior. Portanto, mantidas as condições atuais, esse resultado não se repetirá. O que chama a atenção são três aspectos pouco comentados: a) mesmo com as vendas de ativos, o endividamento é elevadíssimo para os padrões de empresas com grau de investimento dado pelas agências de classificação de risco e para quem tem tantos compromissos com o pré-sal nos próximos cinco anos; b) ocupou-se uma quantidade exagerada de páginas de jornais de grande circulação com anúncios caros para divulgação de seu plano de investimentos, com ênfase no pré-sal, divulgando recordes de produção, sem que fosse mencionada o esvaziamento dos campos antigos, o que fez com que empresa visse sua produção cair nos últimos três anos. Se houver um aumento de 7,5% na produção, ela volta aos padrões do ano de 2011; c) finalmente, o COPOM em sua última ata manteve as expectativas de inflação nos mesmos patamares de 2013, mesmo levando em conta nenhum reajuste para gasolina e óleo diesel. Quer dizer, o governo está sem espaço para manobras em relação a maior empresa do país.
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O governo está muito preocupado com o desempenho da indústria automobilística em 2014. Os estímulos via redução de impostos estão sendo reduzidos e devem cessar no segundo semestre, o que pode e deve melhorar a situação de caixa, mas os problemas na Argentina e a alta dos juros reduzirão a produção e as vendas. Nesse último ponto, a preocupação passa pelo desemprego, pela balança comercial e pelo PIB, pois o setor representava um impacto na produção industrial de 15,8% em 2003 e 2008 e agora é de 46,1%. Mais uma vez por incompetência e falta de planejamento o governo arruma problemas para si.
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A cada semana, o relatório Focus reduz a projeção para o saldo da balança comercial. O ano abriu com uma expectativa do governo de 8,5 bilhões de dólares e no relatório, 7,5 bilhões. Vieram os problemas na Argentina e na Venezuela, dois importantes parceiros, o relatório reduziu a projeção para 6,5 bilhões e o governo não se manifestou, afinal tratam-se de aliados políticos e econômicos. A seca e o mau planejamento energético levaram o governo a ligar usinas termoelétricas movidas a óleo diesel, que não operaram em 2013. O estrago será duplo, na balança comercial e na Petrobras. E finalmente, há a dificuldade de se saber, diante das incertezas sobre o crescimento chinês, como se comportarão as cotações de commodities agrícolas e minerais, itens fundamentais nas nossas exportações. Assim, a projeção do Focus na divulgação da última segunda-feira tombou para 6,4 bilhões de dólares. O governo segue “mudo” como é sua característica na área econômica. Passei a acreditar que o risco de déficit na balança comercial é algo factível. Mas jamais devemos esquecer a criatividade dos dirigentes. No ano passado, graças a exportações de plataformas de petróleo para nós mesmos o saldo foi devidamente “engordado”.
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A sanha para arrecadar mais e cumprir a promessa de 1,9% do PIB para o superávit primário coloca agora o Ministério das Comunicações e o Tesouro Nacional em campos opostos. Enquanto a área econômica quer mudar as regras da fase dois do leilão de licenças 4G, a área técnica do ministério luta para manter todos os critérios de metas definidos anteriormente. Sem eles, a projeção de valor, estimado em seis bilhões de reais, pode chegar até quinze bilhões. O sacrificado será o usuário, pois a retirada de metas de cobertura talvez excluam cidades de médio e pequeno porte, criando um desequilíbrio operacional. Queda de braço importante com solução prevista até o final de abril. Essa meta de superávit primário, não será alcançada pelas vias normais. Para cumpri-la, será necessário recorrer a essas e outras mudanças.