É um sábado de primavera de temperatura agradável. Espero você se arrumar para um jantar no restaurante que gosta. Aguardar os preparativos de uma namorada nunca me incomodou. Nunca apressei ninguém. Sempre fui paciente para verificar o resultado de tantos cuidados. E você aparece linda, com um vestido que, apesar de discreto, revela suas formas maravilhosas. E há um detalhe: mesmo fechado até em cima ele deixa os braços à mostra. Tenho vários pontos fracos quando se trata de mulheres. Braços bonitos é um deles.
Um sorriso delicioso pede a aprovação do look. Se demoro a falar é porque me encontro em puro estado de êxtase. Exatamente naquele momento em que você se prepara para fazer uma cara feia, eu exclamo:
— Linda!
Naquela noite, sem nenhuma combinação especial, tudo sai à perfeição. O clima, a comida, a conversa, os sorrisos, as vontades e seus olhos, que brilham como jamais vi.
Muitas vezes penso em noites como aquela, como se elas fossem o ápice da paixão, impossíveis de se repetirem. Por que essa impossibilidade? É inútil remoer, mas algo sempre fica no ar, como uma dúvida existencial.
Quase tudo na minha vida tem uma música como referência e essa noite de que me lembro tão vividamente não poderia ser diferente. A associação, porém, só aconteceu meses depois, quando já não estávamos juntos. Enquanto ouvia com atenção Tony Bennet cantar lentamente The Way You Look Tonight fiquei entre saudoso e feliz.
Cada verso me lembrava daquela noite e de como foi simples e mágica. Parecia que ele, ao cantar, descrevia seu rosto e as minhas reações.
Já desisti de tentar entender o que nos separou. De repente, nada mais combinava. Nada mais era alegria. Mas aquela noite é minha para sempre. Talvez eu esteja praticando alguma espécie de egoísmo, mas será que consta de algum tratado mundial que o amor também não pode ser egoísta? Acho que não. Então volto a pensar no seu sorriso quando chegamos ao restaurante e descobrimos que havia exatamente apenas uma mesa vaga: aquela em que jantamos lá na primeira vez. Rimos juntos como crianças. Mas afinal de contas, qual era a graça? Da situação em si, nenhuma. Por estarmos juntos, havia toda graça do mundo.
Guardo na lembrança cada detalhe. Seria capaz de dizer o que comemos e o que bebemos, e como foi cada minuto até o beijo de despedida, como sempre com gosto de “não quero ir embora”.
Seus braços gelados quando nos abraçamos foram ficando mornos com o passar dos beijos e quando percebi o quanto eu estava envolvido por eles me deixei levar pelo seu perfume. Perdemos a noção do tempo.
Até então, nunca achara que realmente houvesse momentos assim, quando tudo em volta desaparece e nada se passa além daqueles abraços e beijos, sem pressa, sem medo, sem volta.
Lovely, never ever change, keep that breathless charm, won’t you please arrange it, ‘cause I love you, just the way you look tonight…
suspirei!
Fico feliz!