Copa 1 x 0 São João

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festa junina princesa (1)

— Um absurdo, pai! Por causa da Copa não vai ter festa junina no colégio!  Pelo telefone, minha caçula transbordava indignação.

— Filha, a próxima Copa no Brasil só vai acontecer daqui a uns cinquenta anos, isso se a Fifa ainda existir até lá. Então não tem problema um ano sem festa junina.

— Como não tem problema???? Justamente no meu último ano no colégio! É a festa mais legal, a quadrilha mais legal…

Aqui no Rio, até onde observo, a tradição da festa junina não é tão forte, me parece mais restrita a arraiais escolares. Mas em São Paulo, a cidade inteira se mobiliza entre festejos em clubes e escolas, verdadeiros acontecimentos animados por duplas sertanejas famosas. Algumas chegam a juntar mais de 4.000 pessoas. Importado do Rio, eu não tinha ideia da dimensão da coisa e confesso que achei um pouco chatas as primeiras que fui com as filhas. À medida que elas cresceram, porém, algo mudou. Realmente comecei a gostar de vê-las dançar a quadrilha junto com a garotada, todos devidamente à caráter. E além do mais, tinha comida. O povo gosta de fartura e a presença de imigrantes de variadas origens produzia um cardápio que chegava a ser engraçado, com os pratos tradicionais na época, como milho verde e pamonha, disputando espaço com pizza e calzone, churrasco no espetinho, marshamellow quente, tudo regado a cerveja, quentão e batidas, isso para os adultos, naturalmente. A ocasião também serve de pretexto para a paquera generalizada, quase como costuma acontecer nos blocos de carnaval daqui.

Não tenho muitas lembranças de festas juninas no Rio, somente nos tempos do colégio Princesa Isabel, ainda nas primeiras séries. Um dia, quando eu examinava antigas fotos e encontrei uma da minha turma de 1966, onde figuro bem caracterizado, com chapéu de palha e bigode riscado a carvão, um caipira da melhor qualidade. Na foto, reconheci amigos daqueles tempos e fiquei imaginando o que estarão fazendo hoje em dia, quase cinquenta anos depois. Depois disso, não fui a mais nenhuma. Na Urca, havia a quermesse de São Pedro, onde também rolava paquera na adolescência, mas festa caipira de verdade só voltei a frequentar em São Paulo, bem mais tarde, com minhas filhas.

Os anos passados na cidade me permitiram compreender um pouco o desânimo da minha filha. Tentei contornar a situação, mas não havia jeito.

— Você não entende! É a festa de despedida, pai!

— Eu sei, mas o colégio também poderia ter se organizado antes. A tabela da Copa foi divulgada há três meses!

— Pois é, tem as provas do semestre, os simulados do Enem e as festas dos clubes.

— Então vai no clube que também é legal.

— É sim, mas eu queria que todos os meus amigos estivessem juntos.

Desisti de convencê-la e, como pai compreensivo, escutava a sucessão de reclamações. Mas minha cabeça viajava, tentando relembrar as festas da minha infância.

— Pai, você tá me escutando?

— Claro, filha… Acho que você deveria ir na do clube, matar a vontade. E aí, vai no colégio e sugere que no ano que vêm eles organizem uma quadrilha dos ex-alunos. O que acha?

Houve uma pausa demorada do outro lado da linha. Enfim, ela exclamou:

— Pai, você é um gênio!!

Depois de tão fantástica proclamação, nos despedimos.

No fundo, minha filha é quem tem razão. Por mais grandiosas e animadas que sejam as enormes festas em São Paulo, não há nada melhor mesmo do que aquelas do colégio. Essas deixam lembranças pro resto da vida.

 

 

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