Doce dupla

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filhas I

Muitos dizem que a chegada dos filhos mudou suas vidas. Comigo não foi assim. Minhas filhas mudaram minha forma de ver mundo e isso se deu de um modo radical. As duas vieram depois do sofrimento de bebês perdidos e isso as tornou ainda mais esperadas e desejadas. A ansiedade foi avassaladora nos dois períodos de gravidez. Há quem diga que não saberia lidar com garotos ou garotas. Definitivamente, amo ser o pai das minhas meninas.

Nos primeiros tempos, fui um excelente ajudante de amamentação, fornecedor de copo d’água, algodão com álcool, fraldas prontas, água quente na garrafa térmica e outros detalhes. Sentia-me bem em participar dessa forma, mas era pouco, e aquilo me incomodava. Claro, nos primeiros meses de um bebê, o pai não passa de um poste privilegiado. Não pode amamentar. Ainda é desajeitado e precisa disputar espaço com a mãe e as avós embevecidas, quando elas dão alguma chance. Mas eu tinha a sensação de que eu devia estar ali, ao lado dela, caso ela precisasse de mais alguma coisa.

A mais velha chegou quando eu tinha 33 anos. Acompanhei cada fase muito de perto. Desde pequena, parecia  quieta, observadora, um pouco tímida, mas muito carinhosa. Meu coração se acelerava de uma maneira nova, sentia uma emoção diferente nos passeios ao Parque do Ibirapuera, tomar sorvete, na hora de levar para a primeira escola, nas festas de Dia dos Pais.

Quando a caçula nasceu, a vida já estava diferente. Aos 37 anos, eu ocupava outro patamar profissional. Minha posição demandava tempo e trazia consigo muitas preocupações. Essa era a pimenta mais ardida da maternidade, atirada, e impulsiva. Fiquei muito preocupado em acompanhar a reação da mais velha, se sentiria ciúme diante de todas as atenções e das visitas voltadas para a menor. Aproximei-me mais ainda da primeira. Vi-me cercado por temperamentos opostos e procurei de todos os jeitos arrumar o tempo certo para dedicar a cada uma. Elas retribuíram, devolvendo o amor com imensa intensidade. Achei que repetir as festas com a caçula poderia até vir a ser um pouco chato, mas ela jamais deixa que  as coisas fiquem desanimadas.

Tinha a certeza absoluta de que era o pai de meninas mais feliz do mundo.

Curtia o jeitinho de cada uma. Digo com toda sinceridade que sinto falta dos tempos em que eram pequenas, de ler histórias, vestir bonecas, arrumar casinhas, e fingir que comia o jantar preparado por elas… Sentar no chão com uma ou outra era uma viagem.

À medida que elas cresciam,  as diferenças se acumulavam e mais eu adorava minhas “opostas”, que me cobriam de carinho. Claro que discussões, broncas, chamadas de atenção sempre existiram e sempre existirão. Não gosto muito de aliviar, mas nos entendemos bem demais!

filhas III

Ser pai não me transformou, como tantos costumam proclamar. O mundo segue igual para mim, isto é, desigual. Mas me fez imaginar o que fazer, o que devo pensar o tempo todo, o que preciso prever para que minhas filhas sejam mais felizes, mais realizadas e para que tenham condições de descobrir o que futuro lhes reserva da melhor maneira possível. Não posso e não devo impedir seus tombos, mas devo ter tudo pronto para fazer os curativos, caso seja necessário.

Mesmo distantes, nos falamos diariamente, discutimos sobre colégio, faculdade, estágio, futebol, música, política, São Paulo e Rio de Janeiro. É claro que guardam alguns assuntos para si, mas eu finjo que não existem e espero que me contem quando quiserem.

O melhor e mais importante é ter ouvido delas, nos momentos mais dificeis e complicados que passei, a frase mais reconfortante do mundo: “Pai, você nunca vai nos decepcionar”

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