Laís

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O drama da atleta Laís de Souza é conhecido, mas nunca foi tão bem contado quanto no artigo publicado esta semana no site do New York Times, A life in motion, stopped cold (uma vida em movimento, subitamente congelada, seria minha tradução livre), assinada por Sarah Lywall e com uma versão em português. É um grande trabalho de reportagem sob todos os aspectos e explora um lado intrigante, que até hoje não me parecia muito claro: por que uma ginasta de elite dá uma guinada tão brusca na sua carreira e se transforma em esquiadora aérea. Por que cargas d’água o Brasil apareceu, de uma hora para outra com uma equipe para disputar os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi? Até onde sabemos, o país não é exatamente agraciado com invernos rigorosos. A neve é um elemento estranho para a maioria dos cidadãos. Quem dá seus primeiros passos nela, sabe quanto somos desajeitados.  Provavelmente como um esquimó que vai para a praia pela primeira vez.

A LIFE IN MOTION STOPPED COLD

A reportagem explica que o esqui aéreo é uma modalidade recente, criada para atrair o público jovem para os esportes de inverno. Uma garotada que acha muito careta as competições de patinação artística. (E convenhamos, são mesmo).  Com esquis, o sujeito faz uma série de acrobacias cada vez mais complexas e perigosas e depois de tantas cambalhotas, ainda deve aterrissar suavemente.  Descobrimos também que existe uma Confederação Brasileira de Esportes de Inverno com um orçamento de 1,5 milhão de dólares – em Sochi, houve a participação de 13 atletas brasileiros. Investir em modalidades como o esqui aéreo pareceu mais sensato e menos custoso do que montar a estrutura necessária para treinar uma equipe de hóquei .  A sacada: ginastas como Laís, acostumados aos rigores dos treinamentos, disciplinados, funcionariam como matéria-prima de primeira para a modalidade. Mesmo que no caso de Laís a neve fosse uma completa novidade e que ela estranhasse – e muito – as baixas temperaturas.

Aos quinze anos, a menina de Ribeirão Preto foi a mais jovem integrante da seleção olímpica de ginástica, nos jogos de Atenas em 2004. Como se sabe, o tempo é implacável com os praticantes desse esporte, especialmente as mulheres. Com 25 anos e uma determinação inacreditável, Laís buscava se reinventar.  Os sonhos olímpicos foram estraçalhados durante um acidente numa pista de Utah, em janeiro de 2014, episódio nublado pela emoção. Cada personagem envolvido tem sua versão: a própria Laís, sua colega Josi Santos e o técnico Ryan Snow (uma curiosidade: as meninas falavam um inglês apenas rudimentar e Snow, canadense, não fala português). Depois de lutar pela vida, Laís continua sua luta pela sua recuperação.

O artigo em sete partes é um relato hipnotizante do caminho percorrido por Laís de Souza até Double Jack, a pista onde se acidentou, que chega ao auge com um minucioso relato do dia fatídico. É de partir o coração o depoimento de Snow, lembrando o momento em que a menina lhe pediu ajuda. “Foi inacreditável. A coisa mais dilacerante que já ouvi na vida – o desespero de alguém que não consegue mais se mover”, disse para o NYT. A jornada prossegue com os esforços para a recuperação da atleta, que enfrenta dificuldades financeiras para dar prosseguimento aos tratamentos, e a continuação do programa brasileiro de esportes de inverno.

No final das contas, um dos momentos mais tocantes é quando Laís explica para a repórter que quando sonha, ela se vê fazendo as complexas manobras da ginástica olímpica. E nunca sonha com neve ou com o ato de esquiar.

Quem for assinante do jornal de papel,  só lerá essa incrível reportagem no próximo domingo. Por enquanto, ela está disponível online, mas sua melhor versão pode ser lida exclusivamente pelos usuários de iPhone.  Com ela, o jornalão nova-iorquino inaugurou uma nova era como parceiro do Facebook nos chamados Instant Articles (ao pé da letra, artigos instantâneos). Quem tem o app do Facebook agora pode ter em sua timeline, diretamente, reportagens produzidas por parceiros como o NYT, National Geographic, Buzzfeed e The Atlantic, entre outros, sem passar pelos sites das empresas. Nessa interface, a história de Laís ganha ainda mais emoção, ilustrada com fluidez e elegância por vídeos, fotos (que podem ser ampliadas), um texto primoroso e —  o que nunca pode ser menosprezado – um cuidadoso e demorado trabalho de reportagem. (Por Livia de Almeida)

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