Voltei ao Rio de Janeiro em definitivo há três anos, em maio de 2012, e já encontrei a cidade com cara de canteiro de obras. Eram preparativos para um calendário e tanto: Jornada Mundial da Juventude, Rock’ n Rio, Copa do Mundo, Olimpíadas. E meu processo de adaptação passou pela fase de me acostumar com a convivência com tapumes, britadeiras, carrinhos de entulho, caçambas, picaretas, soldas e tudo o mais que faz parte de obras civis de grande porte. Afinal, estamos falando da construção de estádios, da expansão das linhas de metrô, da instalação de trens de superfície e da recuperação de lugares abandonados. Não é pouca coisa. E ao atravessar a cidade de ônibus, sentado naquele banco mais alto, em cima da roda, costumo olhar em volta em ver o que está acontecendo.
Na Urca, onde eu morava, ainda está em andamento uma grande obra no sistema de água e esgoto para beneficiar os moradores e deixar mais limpa a baia de Guanabara, onde acontecerão as provas de iatismo olímpico. Um trabalho para mais de quatro anos, tempo em que caminhões, retroescavadeiras, tratores e geradores fazem um barulho infernal num dos bairros mais silenciosos da cidade, envolvendo Light, Cedae e empresas privadas de engenharia.
Comecei a reparar e que em cada grupo de dez trabalhadores, um com um uniforme diferente comandava, de celular e prancheta nas mãos, tentando dar ordens. Dois nitidamente menos qualificados obedeciam. E o resto?
Um dormia no banco da retroescavadeira, dois falavam no telefone e tiravam fotos da paisagem que realmente é bonita, três almoçavam e um jogava alguma coisa no celular.
Desde a crise de 2008 se fala que falta melhorar a produtividade e o nível médio dos trabalhadores brasileiros. Os índices comprovam isso, e comecei a ligar as duas coisas. Enquanto a Confederação Nacional da Indústria atesta em 10 anos crescimento de 0,6%aa, na Espanha é de 3,1% e na Coréia do Sul de 6,7%. E o que intriga é que, apesar da produtividade declinante, o salário não cai. Enquanto em Taiwan e nos Estados Unidos houve uma queda de 6,2% e 5,2%, respectivamente, aqui houve uma alta de 1,8%.
Nossa produtividade vai subir quando o trabalho começar mais cedo, durar mais horas e houver cobrança. Quando houve treinamento para as funções e remuneração para o que efetivamente foi feito e não pelo dia de trabalho. Isto é, pelo cumprimento de metas. Obra privada tem data de começo e fim. Há atrasos? Sim, mas nada semelhante à construção das pirâmides do Egito. A obra estatal tem começo e aditivos que dobram o preço de contratos e assim vamos. As obras para a Jornada Mundial da Juventude deram errado. O Rock’n Rio deu certo. A Copa do Mundo foi o festival do puxadinho e agora não há o que fazer com os estádios. As Olimpíadas perigam ser outro vexame e no final, vai sobrar feriado para todo mundo, uma forma de expor menos a falta de competência do país. O Brasil, em recente pesquisa mundial realizada pelo instituto suíço IMD, o World Competitiviness Yearbook 2015, figurou em 56º entre 65 países, o que pode se dizer desanima qualquer um.
Enquanto isso, prosseguem sem prazo para acabar obras como aquelas de saneamento da baía de Guanabara. Talvez esteja aí a explicação que os jornais não dão para tantas demoras. Emprego garantido por algum tempo, falta de comando e nenhum tipo de cobrança da população. Além do mais, lá na Urca tem uma paisagem bonita e costuma bater um ventinho bem gostoso. (por Mauro Giorgi)
Obras do Museu do Amanhã, na região portuária.
Parabéns pelo texto, ótima visão de quem está na cidade!
Muito obrigado.