O ex-megaempresário Eike Batista virou novamente alvo de chacota geral, depois de sua hipócrita e infeliz declaração identificando-se como um representante da classe média carioca ao ter quase 1,5 bilhão de reais penhorados pela justiça. Colunistas, cronistas e a população em geral não perdoaram e voltaram suas baterias contra aquele que já foi o homem mais rico do Brasil. Não tenho nada contra as gozações e as manifestações de indignação. Achei graça de todas as piadas que apareceram nas redes sociais. Porém, nos comentários mais sérios senti falta de referências a seus amigos, já que não posso usar uma expressão mais forte. Gente como o ex-governador Sergio Cabral, que voava nos jatinhos de Eike e que muitas vezes serviu de seu interlocutor junto ao governo federal e ao BNDES. Ele está sumido.
Eduardo Paes, midiático prefeito do Rio, fez questão de posar junto a Eike em momentos como a promessa de despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, o compromisso com a reconstrução do Teatro Glória demolido durante a renovação inconclusa do hotel, hoje totalmente desfigurado, e foi eloquente na defesa do Centro de Convenções e shopping na Marina da Glória, cujas obras estão atrasadas para as Olimpíadas de 2016. Por onde anda o prefeito? Está na muda.
Forte incentivador dos investimentos megalomaníacos do empresário em infraestrutura, o ex-presidente Lula o elegeu como um dos chamados “campeões nacionais”, para o BNDES despejar dinheiro a taxas subsidiadas. O atual cabo eleitoral da candidata à reeleição deve ter perdido o número do telefone do Eike. Dilma Rousseff, por sua vez, que declarou ter orgulho pelo Brasil contar com empresários como ele e desejar que o país tivesse dez outros Eikes, também parece ter esquecido o que disse. E aparentemente ficou o dito pelo não dito. E finalmente, nem por isso menos responsável, temos o BNDES, instituição que se arranhou pelos empréstimos e participações acionárias no império de papel X. Sabe-se lá quando verá seu dinheiro de volta. Isto é, se é que realmente verá.
Uma coisa tem que ser louvada: tal como sociedades secretas, o empresário está quieto, investigado e processado pelo Ministério Público Federal e pela CVM, não abre o bico e segue aparentemente conformado com sua sina de voltar a classe média.
Poucos nesta história toda são inocentes. Talvez apenas alguns investidores que acreditavam nos tweets do empresário quando dizia que produziria milhares e milhares de barris de petróleo. A grande maioria, porém, queria mesmo andar na carona do ganho fácil de um empresário com trânsito livre nas três esferas de governo.
Os políticos ingênuos, se é que existe algum, sairão com o mantra que toma conta do país, “eu não sabia de nada”, mas no fundo estão quietos, pois como diz o ditado popular: “Quem tem c…tem medo”.
À população revoltada pela declaração do empresário, resta lamentar pelo que ele prometeu e não cumpriu, pelo desfeito e não refeito Hotel e Teatro Gloria, mas garanto que no imaginário de todos, lá no fundo, ele era o ideal de muitos, cada vez que dava uma declaração ou aparecia em um de seus carros.
Agora é esperar pela chegada de um novo arrivista travestido de cavaleiro da esperança, que embale os sonhos de investidores, governantes e da população em geral.
Como tantos no passado, Eike virou história.
Aliás, é bom lembrar que a prefeitura do Rio não tinha (ou tem) plano B para a despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas. Até onde sei o serviço está parado, apesar das competições de remo, nos Jogos de 2016. O Hotel Glória pelo menos já foi vendido e as obras, se não me engano, já estão andando outra vez. Mas você tem razão, o que aconteceu com o Sérgio Cabral? 🙁
Carlos, não sei realmente se há plano B, aliás o problema da Lagoa já faz décadas e décadas. Quanto ao Glória, foi realmente vendido, mas o fundo ainda busca investidores e operador hoteleiro, logo as obras estão ritmo quase paradas. E não comentei o prédio que tinha embaixo uma das sedes do Flamengo, ali no final da Rui Barbosa, está fechado, vazio e sem destino certo ainda. Abraços e obrigado.