Sem palavra

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Sediar um evento como uma Copa do Mundo expôs algumas das nossas características mais desagradáveis para o público doméstico e internacional. Somos desorganizados, não cumprimos prazos, não levamos a sério promessas e cláusulas contratuais, estouramos orçamentos. Somos assim. A falta de compromisso começa em atitudes corriqueiras e frases que já se transformaram até em material para piada como “Passa lá em casa” (sem dar o endereço), “Te ligo” (sem ter o número) ou “Vamos combinar!” (sem dizer quando). E infelizmente, esse mesmo tipo de comportamento transborda da vida cotidiana para eventos de grande porte, como aquele que começa no próximo dia 12. Para completar, não suportamos as críticas, mesmo quando estamos incrivelmente errados.

No plano da atividade econômica, a frouxidão se reflete nos resultados. No dia 22 de maio, o IMD (Institute for Management Development) divulgou o ranking dos países em termos de produtividade. Caímos dezesseis posições de um ano para o outro e 34 posições em quatro anos. Agora, ocupamos o 54º lugar em um universo de sessenta.

Como se pode exigir produtividade de uma população economicamente ativa que não suporta cobranças? Que acha que metas existem apenas no papel? Que não vê méritos na meritocracia? Como exigir que as crianças desenvolvam um senso de compromisso social quando crescem ouvindo os pais dizerem que os políticos, aqueles que deveriam ser os primeiros a trabalhar, não fazem nada, ou pior, que só trabalham para si e para os seus? Como esperar alguma coisa dos jovens que entram na vida profissional quando o esforço é visto como coisa de otário nesse país? Enfim, o que será que acontece conosco que nos impede de seguir regras em prol do bem coletivo?

Não tenho resposta para nenhuma dessas perguntas. O que sei é que precisamos começar uma verdadeira revolução com ações de curto e médio prazo se quisermos transformar a situação nacional. Está na hora de uma mudança? Não. A hora passou há muito e o que começarmos hoje só deverá render frutos dentro de uns 25 anos. Com franqueza, não sei se o país tem paciência para isso ou se até lá atolaremos na nossa falta de comprometimento.

É fato que as reclamações são abundantes, mas o que me impressiona é nossa paralisia. A distorção é tão grave que, numa conversa, todo mundo é capaz de fazer os comentários “corretos”. Na prática, nada acontece, independentemente de classe social, de nível educacional ou financeiro. Cumprir promessas e palavra é coisa restrita a uma minoria.

Não seria diferente na hora de assumirmos a organização da Copa do Mundo. Os jornais já estão cansados de estampar tudo o que foi prometido e não foi realizado, os rombos nos orçamentos e as promessas patéticas que ficaram por isso mesmo. Fiquemos apenas com um exemplo. Existe desfaçatez maior do que àquela usada pela então Ministra da Casa Civil, candidata à presidência da República (atual candidata à reeleição) ao prometer a ligação Rio-São Paulo via trem-bala a tempo da Copa de 2014? O tempo passou e não se falou mais nisso.

É como dizia o prefeito Walfrido Canavieira, personagem de Chico Anysio: Palavras são palavras, nada mais que palavras.

E sem dar satisfação a ninguém, está tudo adiado até segunda ordem.

 

 

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Sem comentários

  • Adriana Berg disse:

    É Mauro, confesso que sinto vergonha da nossa situação moral. Não é possível que as pessoas ainda pensem como bem descreveste. O tempo de mudanças já passou há muito tempo e me dá um certo desânimo em saber o quanto teríamos que esperar para ver alguma mudança se começássemos hoje! Infelizmente me sinto um pouco pessimista…

    Um abraço, belo artigo.

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