Todos contra todos

0 Flares Twitter 0 Facebook 0 Google+ 0 LinkedIn 0 Email -- 0 Flares ×

Unanimidade I

Esse ano foi de emoções. O país demorou a comprar a ideia da Copa do Mundo. Vínhamos num clima de manifestações, recrudescimento de protestos e achávamos que seria difícil nos unir e formar a famosa “corrente pra frente”. Acho que a derrota vergonhosa para Alemanha e pior, para nós mesmos, ali no campo onde sempre fomos um dos melhores, fez surgir um movimento que não se via há mais de sessenta anos no país.

Não que eu tenha vivido, mas li muito sobre o período do fim do governo Vargas e sobre os anos que antecederam ao o golpe de 1964. Tudo passou a ser preto ou branco. Não só na política, mas em se tratando de qualquer assunto.

Após as eleições de outubro, pensei que o clima fosse ficar mais ameno entre as pessoas, mas a disputa apertada criou um clima generalizado de “nós contra eles”, Fla x Flu, numa polarização que dificulta a ponderação sobre os mais variados temas. As opiniões são dadas e não se consegue conversar, trocar ideias, chegar a alguma outra conclusão. Os diálogos ou as rodas de amigos acabam com rápidas com exasperações. Aquele clima de “A Banda” contra “Disparada” nos festivais da canção, Julinho Botelho ou Garrincha da seleção brasileira de 1958, quem matou Odete Roitman, discussões sobre impedimentos e pênaltis na segunda-feira. Tudo está assim.

Onde foi que nos dividimos tanto que não há um meio-termo quanto à aceitação do aborto, do casamento entre iguais, quanto a uma oposição que quer o melhor para o país e uma situação que quer se perpetuar no poder, e vice-versa?

O brasileiro comunga de uma característica própria dos latinos: discute tudo, entende de tudo e tem opinião formada e irredutível sobre tudo em qualquer momento. Mas nosso humor permitia uma flexibilidade e até brincadeiras. Perdia-se o amigo mas não a piada.

De uns tempos para cá, se perde o amigo de qualquer maneira.

Sim, estamos com vários assuntos pendentes e importantes, mas tivemos chance de escolher governantes e políticos que nos representem e assim conduzir as discussões. Porém, vencedores e perdedores não se convenceram dos resultados. Seguimos num crescente de desafios entre tudo e todos.

Esse clima vai permeando outros assuntos e a sociedade passa a questionar tudo, não aceitar as condições que existem para discussões, a duvidar da idoneidade dos políticos, dos governantes, dos meios de comunicação, da justiça, do futebol, em tudo há desconfiança, descrença e até uma certa raiva.

Não há mais comentários e conclusões. Há constatações seguidas sempre de “mas”. Que dificuldade de aceitar as coisas. Parece que vivemos na idade da pedra lutando diariamente para sobreviver, comer e manter um abrigo contra chuva e frio.

Onde isso irá chegar realmente não sei. Observo a perda do humor cotidiano com muita tristeza, ainda mais no Rio de Janeiro onde o trânsito e a violência andam insuportáveis e as pessoas estão com raiva, medo e egoístas, características que nunca foram da cidade.

A cada dia abro o jornal e vou contabilizando as notícias pró ou contra alguma coisa. Em muito superam os artigos que se dedicam a examinar as notícias em si.

Estou preocupado, o verão vem aí, e será que até a unanimidade nacional será colocada em dúvida?

0 Flares Twitter 0 Facebook 0 Google+ 0 LinkedIn 0 Email -- 0 Flares ×

Sem comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *