Neste início de 2014 as notícias econômicas ao redor do mundo envolveram o Brasil de forma bastante acentuada. Incluído no rol dos cinco frágeis (junto com a Índia, Indonésia, África do Sul e a Turquia), o país busca de várias maneiras recuperar a sua credibilidade. No entanto todos os indicadores de 2013 têm sido muito ruins e as projeções para 2014, apesar de ainda não contarem com consenso, não mostram melhoras significativas.
A cada semana o relatório Focus mostra piora nas projeções de crescimento do PIB, uma expectativa crescente em relação ao aumento das taxas de juros e ainda mais dificuldade do governo para fazer um superávit primário consistente, que devolva a credibilidade perdida com a contabilidade criativa. Relatos, comentários e análises pessimistas, assim como realistas, contrastam com o discurso desgastado do governo de que tudo está “sob controle”.
A expectativa de mais uma boa safra em 2014, única notícia positiva até agora, foi o suficiente para a presidente Dilma atacar os “pessimistas de plantão” como frisou. Mas a verdade é que as expectativas se deterioraram bastante.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, não tendo mais argumentos, muito menos maneiras de reduzir as expectativas de alta do dólar, anunciou que pode até utilizar as reservas cambiais (376 bilhões de dólares) para não deixar o dólar subir e atrapalhar as expectativas de inflação e equilíbrio da economia. Isso soa como ameaça, e depois de trinta anos no mercado financeiro posso garantir: em um primeiro momento se assustam com a ameaça, no segundo momento testarão a afirmação. Isso nunca acabou bem, não há Banco Central no mundo com mais força que a “entidade” mercado.
A nova presidente do FED, Janet Yelen, em sua primeira aparição no Senado americano, apontou nominalmente o Brasil como um dos países que podem ter problemas com a redução do programa de incentivos monetários do FED. É claro que a equipe econômica brasileira chiou, mas é difícil não pensar assim.
As agências de classificação de risco estão atentas aos dados de 2013 que vêm sendo divulgados, e se concentram em algo intangível e muito sério: credibilidade. A contabilidade criativa, as sucessivas projeções erradas, e por fim a deterioração das contas de estatais importantes, eu diria fundamentais, como Petrobras e Banco do Brasil, demonstram o uso indevido de empresas com acionistas privados para fins de política econômica de curto prazo e objetivos eleitoreiros.
Os sinais dados por investidores internos e externos são vários e o governo está prometendo uma melhora na perspectiva quando anunciar a sua meta de superávit primário.
O espaço para erros é muito pequeno. Portanto, algo que não seja possível de alcançar pode ser muito mal visto e algo crível será checado mês a mês. Qualquer desvio na rota terá um reflexo ruim.
O desempenho da indústria será acompanhado muito de perto, pois alguns aspectos positivos podem melhorar as projeções do PIB, como um dólar mais forte para a melhora das exportações, a menor pressão salarial nos custos e estoques adequados a uma menor demanda. No entanto a retirada de estímulos tributários de alguns setores, a alta das taxas de juros, uma retração forte do nosso terceiro maior parceiro comercial (Argentina) e a queda dos investimentos são os contrapesos que serão observados.
O momento é muito difícil para a economia do país e o reflexo é o desempenho ruim do Ibovespa, a volatilidade dos juros e do câmbio no mercado futuro e as seguidas análises internas e externas sobre a possibilidade de redução de nota pelas agências de classificação de risco.
As próximas semanas, até o carnaval, serão muito importantes, pois além do governo divulgar sua meta de superávit primário, o Copom decidirá se mantém o ritmo de alta dos juros e outros indicadores importantes serão divulgados.
Em suma, o piloto ainda não sumiu, mas de qualquer modo é bom apertar o cinto.