À beira do abismo

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Beira do abismo III

Depois de quase seis semanas negando a necessidade de um ajuste na economia, o governo admitiu a necessidade de se tomar, no mínimo, uma série de medidas para recuperar as contas públicas. Bem, existem outros problemas, mas a alegação em vigor é que a culpa é da “crise internacional”. Olhemos pois as contas públicas e algumas de suas implicações.

Os assessores econômicos da candidata à reeleição defendem que tudo pode ser feito de forma gradual, sem afetar os programas sociais, as conquistas das classes menos favorecidas, mantendo-se a ênfase no modelo que incentiva e privilegia o consumo.

Os assessores econômicos do candidato da oposição sabem que não há necessidade de promover cortes nos programas sociais, nem nas conquistas das classes menos favorecidas, mas enfatizam que a inflação, que guarda estreita relação com a deterioração das contas públicas e com o represamento de preços praticado pelo governo, pode reduzir o alcance das conquistas.

O debate está centrado neste cenário: a velocidade e o alcance do ajuste.

O eleitor não sabe e não quer se aprofundar nas teses acadêmicas. O que lhe interessa é saber se continuará a comprar o que comprava seis meses atrás e se haverá um volume de aumento nas tarifas públicas acima de suas possibilidades. O atual nível de endividamento das famílias já faz com que se tenha um volume menor de compras parceladas. Também fez com que  os bancos privados passassem a ser mais seletivos na liberação do crédito. Isto deveria servir de alerta para o governo, pois se uma ponta faz a sua parte para não estourar o orçamento, a outra ponta, o governo, deveria fazer o mesmo. Mas vemos que o governo fará um esforço muito grande, utilizará a contabilidade criativa, postergará despesas e se for o caso  até as esconderá, para chegar ao final do ano sem superávit primário algum, quando prometeu 1,8% do PIB.

Qualquer um que assumir em 1º de janeiro próximo deverá lidar com as agências de classificação de risco, pois a nossa necessidade de poupança externa cresceu muito e perdendo o grau de investimento, haverá retirada de recursos de estrangeiros do país. Medidas, graduais ou não, mais ou menos fortes, devem ligar os motores da confiança dos empresários e consumidores e criar uma expectativa positiva. Hoje ela anda totalmente negativa.

O setor de energia é ao mesmo tempo um pólo de investimentos e uma vitrine do país. Por ganância eleitoral, incompetência para segurar a inflação e péssima política externa, a Petrobras e a Eletrobras se encontram em situação delicada. O consumidor, seja pessoa física ou jurídica, aguarda ansioso pelas políticas de preço dos combustíveis e energia elétrica. As duas atingem de frente a inflação e a intenção de investimentos, dois assuntos muito delicados neste final de governo. E os dois batem nas finanças públicas, pois a Petrobras pode ter que reduzir investimentos, reduzir repasse de dividendos e afetar mais ainda a já abalada credibilidade de gestão do governo do PT. A Eletrobras pode necessitar de mais aportes, além dos seis bilhões já recebidos. Não conseguirá repassar dividendos, e o consumidor ainda não sabe o tamanho da conta a ser paga entre 2015 e 2018 por causa de todos os erros cometidos no setor elétrico.

Finalmente, existem alguns “esqueletos” escondidos no armário do BNDES. O total de dívidas com o Tesouro Nacional ultrapassa 400 bilhões, não aparece no Orçamento Geral e pressiona o caixa do governo, pois há um subsídio de taxas de juros e do caixa do BNDES, que semana passada pediu um reescalonamento do pagamento das parcelas de 2015 a 2017.

O próximo governo começa na beira do precipício e não há como disfarçar mais a situação. Um ajuste gradual exigiria um cenário positivo externo e não há boas projeções neste campo. Um ajuste mais forte é o melhor. Mas o voto que será dado a favor da oposição está totalmente consciente disso?

O que fica provado é que a irresponsabilidade fiscal que pensávamos ter sido deixada para trás no governo Sarney retornou igual, trinta anos depois. Não é a toa que existe uma aliança entre o PT e Sarney. Deus os fez iguais e o diabo os juntou.

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Sem comentários

  • Adriana Berg disse:

    Pois é, se o Aécio ganhar, vai ser um governo muito difícil. Além de governar apagando incêndios, ele vai ter que lidar com a opinião pública em ritmo de recessão…

    • maurogiorgi01 disse:

      Exatamente,assistiremos o replay do segundo mandato do FHC.A queda real do PT só se dará com um fracasso retumbante,e isso não acontecerá agora,precisaria que as eleições fossem em 2015.Resta espera que o Aécio vença e faça um governo de acertos acima de 80%.

  • Andréa disse:

    Vdm. Independentemente de quem ocupe o trono. Dependemos de 20 milhões de pessoas que aceitem o Aecio sem responsabilizar o psdb pelos danos inevitáveis

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