A nova face da Lapa

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Encrustada entre o centro do Rio e o finalzinho da zona sul, a Lapa tem uma longa tradição na vida boêmia da cidade. Viveu altos e baixos e nos últimos anos consolidou-se como local do samba, um dos pontos mais movimentados da vida noturna carioca. Grandes casas de shows, bares e restaurantes dividem espaço com cortiços, ocupações, e calçadas frequentadas por prostitutas e travestis. Há um ar geral de decadência, mas a proximidade com o Centro tornou o bairro atraente para investidores. Surgiram lançamentos imobiliários e, silenciosamente, o que está escondido por fachadas em ruínas pode ser surpreendente. Na movimentada rua do Riachuelo, por exemplo, fica a nova concentração do Vasco, num hotel recém-reformado por um grupo português. A facilidade de acesso ao clube em São Cristóvão foi um dos atrativos.

Mas os sobrados da Lapa também estão sendo convertidos em outros tipos de alojamentos, como vim a descobrir por acaso. Por meio de um site de aluguel por temporada para turistas, procurei um quarto para passar dez dias. Fiquei surpreso quando descobri um grande número de ofertas no bairro. Uma delas me prometia tudo o que eu queria: wifi e tranquilidade.

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Confesso que torci o nariz quando cheguei e vi uma casa com janelas quebradas, pintura descascada, com vizinhança de sem-tetos e de montes de lixo, e um cabeleireiro para travestis ao lado. Respirei fundo e subi a escada. Fiquei boquiaberto. O interior estava sendo totalmente reformado. Não era nada luxuoso, mas muito funcional. Havia corredores compridos com dezenas de quartos e as portas foram se abrindo para conferir o novo morador: desde jovens mochileiros até senhoras vendo televisão ou passando roupa.

Meu quarto estava tinindo, com móveis novinhos, mas um detalhe chamou logo minha atenção: a presença de uma pia, resquícios de um passado em que o banheiro era um luxo, compartilhado por muitos. Muito solícita, a administradora do imóvel explicou que está reformando várias casas do bairro e convertendo-as em albergues, já de olho no movimento turístico esperado para os Jogos Olímpicos. Ela bota fé e investe na gentrificação da Lapa. Por enquanto, porém, os contrastes ainda são extremos: gente jovem e animada atrás de boa música e outros tantos caídos no chão, usuários de crack. Nas calçadas, vende-se de tudo: de despertadores a bonecas quebradas. Foi uma experiência intensa conviver com o incômodo provocado pela pobreza da cidade grande, um problema que não tem solução de curto ou médio prazo e ao mesmo tempo perceber o imenso potencial que aquela região dispõe para se desenvolver e prosperar.

 

 

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