Perto das 8h30 da manhã, entrei no metro em direção ao centro da cidade. Não havia lugar para sentar no meu vagão. Encostei próximo da porta para tentar ler as manchetes do jornal que trazia comigo. Ao meu lado, um rapaz com fone de ouvido escutava funk no último volume. O barulho do metrô e a qualidade da música não ajudavam na concentração para a leitura. Depois de uma parada, vagou um lugar. Depois de me certificar de que ninguém sentaria, acomodei-me e tentei recomeçar a leitura. Do meu lado, uma senhora urrava ao celular. Por que as pessoas insistem em falar ao telefone em condições tão precárias? Em dois minutos, todos no vagão ficaram a par de que seu neto estava com uma virose e que ela considerava “um incapaz” determinado médico do Posto de Saúde de Botafogo.
Levantei-me para ficar perto da saída. Já havia guardado o jornal na mochila. Faltavam apenas duas estações para o Largo da Carioca. Então percebi que aquela senhora também saltaria ali. Ela continuava a falar e a amaldiçoar o médico. Saltamos, pegamos as escadas rolantes e mesmo com um pouco mais de silêncio, a altura da voz dela não se alterava. Acelerei o passo na esperança de menos barulho, mas ao sair próximo da Avenida Rio Branco, era um tal de camelô vendendo programas de computador e DVDs piratas ou panos de prato, agentes de trânsito (antigamente chamados de guardas de trânsito) apitando freneticamente, taxistas apoiados nas buzinas, ônibus acelerando para chamar a atenção. Enfim, senti saudade instantânea do ar condicionado e do funk dentro do metrô.
Encaminhei-me para a um café onde como pão na chapa e um expresso na esquina da rua São José com rua Rodrigo Silva e passei a reparar não só como a cidade está muito barulhenta, mas também como isso afeta as pessoas, que falam cada vez mais alto.
Tudo isso desperta em mim uma reação contrária. Falo cada vez mais baixo e somente o necessário na rua. Em ambientes com muita gente também só me manifesto por algo imprescindível. Celular em público evitado ao máximo é a minha contribuição para reduzir a surdez que assolará a população das grandes cidades.
Vi na coluna “Gente Boa” do Segundo Caderno de O Globo que algumas pessoas aqui no Rio fazem um movimento para que se fale mais baixo. Sou totalmente favorável, mas é uma campanha que precisará enfrentar alguns aspectos subjetivos, como educação, autopromoção ao falar ao celular, péssima qualidade do sinal (especialmente se for TIM), insegurança se a pessoa estiver em grupo, enfim, uma série de coisas. Mas é fundamental reduzir o barulho produzido pelas pessoas.
A praia é meu paraíso, os ruídos se dispersam no mar e nada se sobrepõe à música das ondas. Como dizia Dorival Caymmi: “O mar quando quebra na praia é bonito, é bonito”. E também é um bálsamo para os ouvidos.