— Vai lá! Marca! Não deixa!
— Com licença, senhor Mauro. Posso comandar o time?
Aquela pergunta foi tão perfeita quanto inoportuna. Afinal quem estava em campo era minha caçula. O pedido veio da sua professora de Educação Física. Desde pequena, ela gostava de bola e assistia aos jogos de futebol comigo pela televisão, o que me fazia pensar: será que vai jogar? E a resposta não demorou. Quando íamos para o parque do Ibirapuera, a mais velha optava pela bicicleta e os patins. A mais nova ficava com a bola.
O tempo passou e aquele jogo tinha sido aguardado ansiosamente por mais de uma semana. Ela não parava de me perguntar se eu iria, mesmo depois de ouvir seguidas vezes minha resposta afirmativa. Sai do centro de São Paulo até o Morumbi na hora do almoço para acompanhar o jogo. Não consegui ficar junto das mães das outras meninas. De paletó e gravata, na beira da quadra, dava instruções e vibrava com as jogadas dela e do seu time. Por que a professora queria dar instruções se estava tudo funcionando tão bem com as minhas?
Uma vitória arrasadora fez a felicidade dela e transformou minha tarde em uma delícia.
Parece que foi ontem.
Pelo vidro da maternidade do Hospital Albert Einstein eu observava o bebê mais gordinho que chorava até ficar vermelho. As pessoas diziam:
–Tadinha, será que tá com fome?
Eu respondia entre babão e preocupado:
— Minha filha.
Outra vez numa sexta-feira de inverno, as famílias se aglomeraram perto do vidro que dava para a sala de parto. Quando abriu a cortina, apareceu uma “bolinha branquinha de cabelo escuro”, de acordo com a minha mãe, que foi logo abrindo o berreiro…
Ela chegou avisando que queria seu espaço, dizia o pediatra. E brincava: cuidado com os caçulas. Será que está se referindo a mim? Como vai se sair essa pimenta do berçário?
Um tanto quanto mal humorada quando pequena, logo percebi que era movida a desafios ou a doces, totalmente diferente da irmã. Sempre muito engraçada nas suas tiradas e jeitos, ela chegou para agitar a casa depois de uma segunda gravidez complicada.
Muito gulosa, até os dois anos ficou “ameaçada” de regime pelo pediatra, mas quando foi para o colégio começou a afinar e hoje é minha caçula magrinha.
Uma moleca que gostava de aprontar algumas com as amigas, mas como sempre foi atenciosa, acabava se saindo bem em todas as situações.
Uma companheira que junto comigo cuidou da nossa cachorrinha com um amor indescritível, uma amiga que as amigas procuram nas horas difíceis, uma menina que irá longe nos seus objetivos pois não tem medo de não saber e tem a vontade de querer.
Minha caçula completa dezoito anos e começa a alçar voos mais altos, sem perder a criança que existe dentro de si.
Minha esportista predileta discute futebol comigo e continua louca por doces, em especial brigadeiros, e a cada dia é mais engraçada. Me ensina as gírias da moda, as músicas novas, e como devo abreviar as palavras na Internet.
Parabéns, filha!