Comentaristas bissextos

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Comentaristas de Copa II

É praticamente um clichê afirmar que somos uma nação com x milhões de técnicos de futebol (x equivalendo ao resultado do mais recente censo do IBGE). Para mim, trata-se de uma meia verdade. O que somos é uma nação de técnicos especialistas em Copas do Mundo, cada um querendo demonstrar ao outro sua argúcia e conhecimento com seus comentários. Mas estamos vivendo novos tempos e o fenômeno da disseminação das redes sociais criou condições para que aquilo que até então ficava restrito às mesas dos bares e dos restaurantes ou às reuniões familiares ganhasse uma vitrine muito mais vistosa.

Admito que sou fanático por futebol e que tento não deixar isso transparecer no dia-a-dia. Nos fins de semana, porém, durante as rodadas de campeonatos em que o Fluminense, meu time do coração, participa, não me contenho e acabo fazendo comentários nas redes sociais. Nessas ocasiões, sempre aparece algum amigo que responde de forma cândida e delicada que “odeia futebol”.

Gosto não se discute, mas estamos em plena Copa do Mundo e dessa vez o maior evento mundial do esporte, assistido por bilhões de espectadores em todo o planeta, acontece no Brasil. Não é de se espantar que até os defuntos se sintam ouriçados. E de repente, não mais que de repente, vemos o time dos “avessos a futebol” entrar em campo e seus integrantes discorrerem teorias táticas sobre o time brasileiro capazes de ruborizar comentaristas veteranos da nossa profícua crônica esportiva. Leio tudo e me divirto com a metamorfose. Realmente, cada um de nós se transforma em técnico de futebol. E mais, cada um de nós tem a solução infalível para resolver cada problema enfrentado pelo nosso selecionado.

Como acontece em relação a outros temas, no território livre das redes sociais existe uma grande tendência para a polarização, o radicalismo, o fundamentalismo e o futebol não fica imune. Os pessimistas de plantão se proliferam, fazem especulações sem mesmo saber se pegaremos esse ou aquele time que já lhes parece consagrado campeão absoluto. “Jogando assim, sei não… Nem classifica… Imagina jogando contra a Alemanha”, declara um, enquanto dezenas de outros concordam, discordam, elevam o tom, escalam jogadores fora de posição, evocam Tostão, Gerson e Jairzinho como exemplos, enfim uma verdadeira Wikipedia do Crioulo Doido, digna de um Stanislaw Ponte Preta.

Outro grupo barulhento é formado por aqueles que insistem em dar um viés político ao esporte, encarnando o mau humor reinante no país no momento. São aqueles que teimam em afirmar que é não torcer pela Seleção pode fazer o país “acordar” contra “tudo o que está aí”, sem especificar realmente o que está aí.

Tem espaço para todo mundo, é claro. E eu mesmo nunca me furto a fazer comentários sobre a Seleção Brasileira e sobre os demais assuntos. Assumidamente, faço parte dessa legião de técnicos e digo mais. Sou um exemplar da pior espécie. Corneto todos os jogos, com ou sem Copa, e com absoluta certeza e vontade perturbo o juízo daqueles amigos que só deixam de odiar futebol a cada quatro anos.

 

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