— Querido, vai me dizer que tem futebol hoje, de novo? A Copa já acabou. Foi uma overdose e um vexame tão grande que deveriam parar de transmitir jogos por um ano!
— Até que você tem uma certa dose de razão, mas agora é meu time.
— Mas o time de todos nós é o Brasil!
— Não força a barra, mulher. Você colocou um bom ponto para discussão, mas não extrapola. E você, vai ver a novela nova? É igual a outra que foi igual a do ano passado: mocinho, mocinha, vilão e vilã; assuntos velhos com novos disfarces.
— Até que você tem alguma razão, mas gosto porque é próxima da nossa realidade. Os filmes hollywodianos são pasteurizados em outra realidade.
— Estamos numa aldeia global, os argumentos são os mesmos, mudam os cenários.
— Ok, sociólogo de boteco. Agora quem exagerou foi você! Vamos combinar o seguinte? Ninguém tenta mais atrapalhar, menosprezar, ou boicotar a rotina do outro. Afinal, nós somos o dia a dia um do outro, e já faz alguns anos que estamos assim, juntos.
— Nossa! Tem razão. Estamos juntos desde que meu time foi tricampeão pela última vez. Isso faz tempo…
— E eu lembro que só saía de casa depois da novela, quando aquele ator principal nem era casado. E hoje ele já é avô! Amor, me responde uma coisa?
— Fala…
— Tá cansado da nossa rotina?
— Bom… Rotina cansa mesmo.
— Mas não sente falta das novidades do início de nossas vidas?
— Sinto falta sim, tem razão.
— E então…
— Então o quê? O que está sugerindo?
— Mudanças…
— Você vai deixar de ver novelas?
— Não! Você por acaso vai torcer por outro time?
— Nunca!
— Então não sei…
— Que tal a gente continuar se amando exatamente como hoje, do jeito que tem sido desde o primeiro dia?
— Mas aí não tem mudança alguma!
— Eu sei, mais sou feliz demais assim. E você?
— Também…
— Põe na novela. Tá na hora, eu vejo com você.
— Tá bom. Depois tem jogo, eu vejo com você.
— E tem gente que não gosta de rotina… Eles não sabem de nada!