Por Helena Buchman
Filhos, filhos, filhos. Eu tenho três. Extrapola a curva da demografia brasileira. Extrapola o meu número de braços. É muito mais do que imaginei. Mais intenso. Mais caloroso. Tudo mais. Mais barulhento também. Radical. Eu adoro. Descobri-me mãe. Gostei de me ver inflar junto com a sensação de plenitude, de sentir a potência de pequenas pernas se debatendo dentro da minha barriga, de ser surpreendida pelo primeiro toque de vida de cada um deles.
Paraíso? Não. Meu caçula acabar de ler as palavras acima e dizer, com sua visão sempre cheia de ironia e acidez: “Mamãe, isso é um inferno!” Barriga inflar? Ele lembra que, às vezes, a casa cai. Eles se enfrentam, eles me enfrentam. Testam as fronteiras da razão. A loucura vence. Aí eu mesma começo a lembrar o que parecia enterrado na memória. As primeiras e doloridas mamadas. Os meses de sono interrompido pelo choro que não cansa de chorar. A volta ao trabalho e a ânsia de equilibrar tudo mantendo a sanidade. Febre alta, altas necessidades. Quando são pequenos, todo mundo fala: crescem num sopro.
E crescem mesmo. O que era mais braçal fica mais cerebral. Eles argumentam. Sabem o que querem. Começam a se desprender e a aprender a viver. É certamente mais difícil conduzi-los à independência do que lhes apresentar a primeira papinha. Exige tatear sobre o desconhecido. Entender até que ponto eles voam e quando devem aterrissar. A hora de soltá-los e o momento de agarrá-los. Eles não querem mais ver a mãe afoita por um gesto na porta da escola. Querem que você se vá. E você precisa ir.
A incondicionalidade deste amor tão intensamente infinito transformou minha existência. Adoro trabalhar. Adoro viajar. Ocupar a cabeça com assuntos que não têm nada a ver com a maternidade. Desgarrar-se é um aprendizado também. Mas é tão bom voltar!
P.S.: Sabe o que me inspirou a escrever? Passei três dias longe do pequeno caos desses pequenos seres, em viagem, e acabei de reencontrá-los. Demos aquele abraço de esmagar e cair no chão. Filhos, filhos, filhos.