Na última sexta-feira, a Petrobras, maior empresa estatal do Brasil, apresentou o resultado do primeiro trimestre, encerrado em março, superando as médias calculadas pelos principais analistas de investimentos do mercado nacional e outras cinco instituições estrangeiras. Apesar dos números ficarem acima do projetado, houve uma queda de 30% em relação ao mesmo período de 2013 e de 14% em relação ao trimestre anterior, encerrado em dezembro passado.
Para explicar a queda de resultado, a empresa apontou como principal fator um reconhecimento de 1,4 bilhão de reais na linha final pela provisão do Programa de Demissão Voluntária, encerrado em 8 de maio, que prevê o desligamento de aproximadamente 8.500 funcionários nos próximos trinta meses.
Se não houvesse esse reconhecimento antecipado, que pode ser maior ou menor conforme o que ocorrer nos próximos meses, o resultado repetiria 2013 e seria maior que aquele do trimestre anterior. Isso é bom? Não. Uma empresa do porte da Petrobras, sem fatores externos relevantes, deve sempre ter crescimento de resultados. Dessa maneira, o que se viu foi uma repetição do que ocorre há três anos: o uso político-econômico dela pelo governo que não é seu dono.
A produção de petróleo e gás recuou 1% em relação a 2013, mas a empresa manteve a projeção de crescimento de 7,5% para o ano de 2014. Agora, quando faltam nove meses, cresce o ceticismo dos analistas de investimentos que acompanham a estatal para que esse crescimento ocorra.
Apesar dos preços da gasolina e diesel permanecerem defasados, a empresa seguiu com seu ambicioso programa de investimentos. Como não houve geração de caixa suficiente para bancá-los, ela elevou mais uma vez seu endividamento. Começou mal a promessa feita ao final de 2013 de que ele seria reduzido.
O resultado foi impactado positivamente pela venda de ativos na África, gerando 750 milhões de reais incorporados na linha final. Logo o que a empresa alegou em relação ao PDV — que um fator não operacional prejudicou o resultado — não é inteiramente verdadeiro, pois houve um outro fator não operacional, positivo. Assim, olhando só para a empresa, o resultado seria inferior a 2013 e ao trimestre anterior.
A análise de curto prazo da maior parte das instituições financeiras é que se a Petrobras conseguir cumprir o crescimento de produção, a queda de resultado em relação a 2013 será bem inferior aos 30% observados agora, mas sem reajuste algum nos preços da gasolina e do diesel, um resultado superior fica muito difícil.
A análise de longo prazo é bem mais pessimista. Sem uma política de preços definida e com um esforço muito grande de investimentos, a empresa poderá passar por mais elevações de endividamento, o que poderá elevar o custo de captação, comprometendo a rentabilidade futura.
Trazer as decisões de compra e venda das ações para o terreno das pesquisas de aprovação de governo e intenção de voto nas próximas eleições presidenciais é temerário, de acordo com os melhores gestores de recursos do país.
Com essas opiniões em mãos, eu não seria acionista da empresa no curto prazo.
Uma boa empresa com um bom produto sobrevive a uma má administração. A pergunta é: quando é que eles vão embora?