A economia é uma ciência social usada por muitos na tentativa fútil de provar por meio de números que as pessoas, em qualquer tempo e local, tomam as mesmas atitudes diante de determinadas ações de agentes econômicos.
Isto deveria estar escrito em cada livro de micro e macroeconomia, além dos de econometria, ou de qualquer matéria, que quer transformar pessoas em repetidoras de ações a qualquer tempo.
Faço essa afirmação como um analista de investimentos e gestor de recursos mediano, depois de muito observar os comportamentos das pessoas, empresas e governos nos últimos trinta anos.
Essa afirmação também tem o objetivo de alertar para tentações que governos de todos os partidos, ao redor do mundo, são incapazes de resistir enquanto buscam o poder perto das eleições e tentam, eu disse tentam, prolongar sua permanência no poder em vez de se preocupar com a durabilidade de suas atitudes.
Um dos maiores partidos de oposição que o Brasil já teve na segunda metade do séc. XX está no poder central há mais de dez anos, mantendo também a maioria no Legislativo graças a coligações na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Suas coligações governam cerca de 70% dos estados da federação e aproximadamente 55% do PIB do país. A conclusão que se chega é que teria tudo, ou quase tudo, para se manter no poder por atitudes pregadas ao longo de mais de vinte anos de oposição dura, coerente e ferrenha em todas as esferas do poder.
No entanto, o que se observa hoje, em termos econômicos, é uma sucessão de erros e pensamentos de curto alcance. O objetivo é repetir um sucesso que em nenhum momento fez parte do ideário do partido nos seus primeiros quatro anos de governo, nem foi criado por ele, e sim por uma soma de fatores internos e externos, pois a economia é dinâmica e, atitudes, fatos e condições ambientais exercem influência no longo prazo e muitas vezes estão ligadas ao imponderável.
As ações de desmonte de medidas concretas e positivas de gestões anteriores, bem como a tentativa de criação de políticas novas com base em despesas do Tesouro minam no longo prazo a capacidade de investimento de um país. Repetindo, a economia precisa ser praticada diariamente com o olhar voltado para a próxima década, pois as pessoas não agem de forma igual, a não ser que se mantenha um ambiente propício para o bem-estar. Em momentos dificeis as atitudes são erráticas e não seguem o pensamento dos livros e os números das fórmulas.
A intenção aqui não é apontar erros específicos de partido A ou B, até porque no Brasil faríamos um compêndio com todas as façanhas de governos e partidos somente a partir de 1900, mas de constatar que políticas econômicas, fiscais, monetárias e industriais são fruto de dezenas e às vezes, de centenas de ações, atitudes, que entrelaçadas, levam a um crescimento econômico denso e coerente.
Durante trinta anos este país foi alvo de nenhum investimento produtivo real, interno fosse ele privado ou estatal e externo, apenas arremedos de pequena monta por parte de grandes multinacionais. Com arcabouço político e jurídico bem organizado e com regras estáveis em termos de tributação, observamos um número crescente de empresas, empreendimentos e projetos aportando no país entre 1998 e 2008. Autoridades de governo neste período puderam observar que além de remuneração, os investidores buscavam pouca intervenção e poder de indução de crescimento de longo prazo coerente.
A crise internacional que a partir de 2008 corroeu valores imensos ao redor do mundo poderia ter dado ao Brasil chances extraordinárias de obter crescimento contínuo, coerente e de peso em relação ao mundo. Havia um imenso número de investimentos e de intenções para o longo prazo no país. No entanto, a tentação de fazer com que a economia crescesse “aos soluços” e a tentativa primária de alcançar indices de crescimento que o mundo em determinado momento não permitia, levou a atitudes nas políticas econômica, fiscal, monetária, tributária, e industrial, que trouxeram insegurança aos investidores nacionais e internacionais. Importante ler investidores como Conselhos de Empresas que decidem investimentos de bilhões de dólares por períodos entre dez ou trinta anos. Oportunidades como essas ocorrem a cada duas gerações ou menos.
Desta forma, da forma com que observo o comportamento de governantes e seus pares legislativos no país, entendo que permaneceremos com projetos inacabados, muitos de excelente qualidade, com políticas industriais “capengas” e “viciadas”, com carga tributária escorchante, e principalmente com recursos naturais desperdiçados por disputas mesquinhas visando eleições.
Governar e fazer este país crescer a taxas interessantes não é tarefa fácil, e não deve ser entregue a amadores políticos. É tarefa que cabe a técnicos, acadêmicos, e executivos que este país tem de sobra e que se interessam por crescimento e igualdade social, pois essa é a maior propulsora do crescimento de um país.
Ao ler os jornais todos os dias, vejo a economia brasileira ser guiada tal qual os clubes de futebol, por pessoas até bem intencionadas, mas sem preparo e com o vício de se perpetuar no poder.
Não se deve levar em conta provocações políticas ou disputas regionais mesquinhas. Cidadãos responsáveis,, isto é, todos os eleitores, devem questionar quais das oportunidades criadas pelos governos funcionam como indutores de crescimento e que as regras devem ser respeitadas pelos agentes econômicos que transformarão, de maneira correta ou não, as expectativas iniciais.
O eleitor precisa ser o principal juiz e basear seu veredito no futuro de seus filhos e netos. É necessário que se tenha humildade e grandeza de se pensar nos próximos.
Por uma série de motivos, que levariam dias para serem totalmente elencados, pessoas despreparadas estão destruindo oportunidades, desperdiçando recursos naturais e colocando a culpa em terceiros que nem existem, pois neste momento o vazio que nós eleitores nos impusemos impede que haja oposição. Aliás, impede que haja política da maneira como ela se define, com discussões para se chegar mais próximo ao bem comum.