O que vem por aí

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Young female lying on floor in living room and reading book

Final de ano pode ser o céu ou inferno para os estudantes. Nos meus tempos de escola, visitei esses dois mundos: períodos de férias antecipadas, ou pavores de ficar em segunda época, terror que passou a ser chamado depois de “recuperação”. Sim, sou velho, filho de duas reformas de ensino. Voltei a pensar no assunto pois esse ano minha menina mais velha se forma em Direito, enquanto a mais nova batalha por uma vaga na faculdade, no curso de Comunicação Social. Em momentos como esses, cabe aos pais dar um incentivo responsável, sem incorrer em delírios de otimismo ou em trevas de pessimismo, se bem que cada um cuida da sua ninhada como achar melhor.

Acompanhei minha filha nas provas de um dos seus vestibulares. Ainda não cheguei à conclusão se o unificado que fiz era melhor do que o atual sistema de provas isoladas. O que entendo é que é rentável para as universidades. Do momento em que chegamos ao local da prova até a hora da saída, eu pude ver de tudo um pouco. A garotada de hoje é mais tranquila, vê as coisas com uma perspectiva mais leve e realista, sem fantasiar ou demonizar o sistema. Se passarem nesse momento, ótimo; se tiverem que fazer outras provas isso não significa fracasso.

Não é possível dizer a mesma coisa em relação aos pais. Esses não mudam, e quando mudam acredito que as melhoras são como Lulu Santos dizia na canção: “com passos de formiga e sem vontade”. Enquanto a universidade oferecia um lanche de boas vindas e tentava reduzir a ansiedade dos presentes, observei pessoas que comiam sem parar por conta do nervosismo até outras que comiam e diziam que, levando-se em consideração a taxa de inscrição cobrada, o lanche era ruim. Onde é que as pessoas perdem a noção das coisas? Onde foi parar o bom senso?

Mas o que me deixou mais animado com a molecada foram os comentários sobre as provas e o tema da redação. Há um descolamento muito interessante entre aparência e raciocínio, se é que me entendem. Podem estar de bermuda e havaianas, saias longas e cabelos sem ver uma escova há semanas, de calça comprida e mocassins, minissaia da moda e sapato de meio salário mínimo, mas todos falam de maneira clara e sem timidez e as tribos interagem. Afinal, estudaram juntas, têm objetivos em comum e o principal: se enxergam e se entendem como amigos e companheiros, sem disputar nada, mesmo que saibam que uns terão vaga e outros não.

Isso invade os pais de esperança vendo aquelas “crianças” perto dos dezoito anos, com tudo e mais um pouco pela frente, sem vivenciar a concorrência desleal pelo trabalho que somos submetidos e praticamos. Pode ser uma visão idealista e romântica como a de John Lennon, mas quem sabe eles não possam fazer uma diferença dentro de uns trinta ou quarenta anos, e que passem isso adiante.

Apesar de ter procurado transmitir isso às minhas duas moças, o mercado de trabalho atropelou e triturou alguns sentimentos que deveriam ter permanecido em mim, e agora vejo que os jovens filtram muitas coisas que acontecem com os pais. Até porque eles tem a noção exata de quem somos, com qualidades e defeitos, cicatrizes e vitórias da meia-idade.

Enfim, saí renovado e esperançoso com o que vem por aí, com a certeza de que apesar de termos muitos defeitos, conseguimos passar alguma coisa melhor adiante, como nossos pais já tinham feito.

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