Há um desencontro de informações e de visões da atualidade entre economistas do governo e de fora deste, e entre o governo e os empresários. Esse distanciamento pode ser constatado em três eventos separados ocorridos nesta semana.
O primeiro deu-se em uma entrevista feita pela TV Estadão com o economista Marcelo Neri, titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos, e o ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda do governo Lula, Marcos Lisboa. Atenção: estou falando de pessoas que supostamente comungam das mesmas ideias. O secretário insistiu que os dados macroeconômicos se distanciaram dos dados sociais porque houve uma escolha pelo social por parte do governo. Errado. Os dados sociais no tempo tendem a encontrar os dados macroeconômicos, como já percebemos no emprego da indústria que cai a sete meses e nos dados de inadimplência das micros, pequenas e médias empresas. O economista Marcos Lisboa tentou em vão durante toda a entrevista demonstrar que não há necessidade de se reduzir o dispêndio social, mas que se não houver cuidado com a economia, avanços importantes podem ser reduzidos. Esta foi uma das melhores discussões que vi nos últimos tempos, principalmente porque mostra o quanto a ideologia obscurece a visão de profissionais de renome. A luta pelo poder e pela reeleição leva muitas vezes à distorção da realidade.
No 11º Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas, o ministro Guido Mantega afirmou que agora, “na saída da crise”, serão precisos ajustes nos juros, câmbio e superávit primário. Realmente, há algo de muito estranho nessas palavras. Os três ajustes que quer fazer são necessários justamente porque houve, em 2009, abandono do tripé macroeconômico seguido desde 1999, quando da nossa crise cambial. A crise internacional é sempre o bode expiatório empregado pelo governo que esquece da aventura de redução dos juros, da atual armadilha dos swaps para segurar o câmbio e a inflação, e da contabilidade criativa, pois gasta muito e mal. E então a culpa é da crise? É impressionante como acreditam que jamais houve um erro sequer em doze anos no poder.
Paradoxalmente, no mesmo evento o presidente da Fiesp, Benjamin Steinbruch, um dos empresários mais próximos do PT desde a campanha do ex-presidente Lula em 2002, declarou que os dados do governo não refletem a realidade e que os empresários estão sem confiança alguma para realizar investimentos. Criticou ainda o câmbio defasado e os juros altos em relação ao resto do mundo por uma inflação descontrolada.
Há um embate entre empresários e o governo. Não se trata de uma queda de braço em que alguém deve se curvar ou não. É preciso sim absorver a ideia de que é preciso mudar um modelo que não foi um sucesso e se esgotou. O crescimento pelo consumo é pequeno e tem voo curto.
Finalmente, no importante seminário internacional Rio Oil & Gas realizado a cada dois anos no Rio de Janeiro, o presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo, em seu discurso de abertura, afirmou que o cenário do setor de petróleo piorou recentemente. O secretário-executivo de Petróleo e Gás do ministério de Minas e Energia, saiu em defesa da Petrobras e declarou que “problemas acontecem em qualquer país e em qualquer empresa”. Ele tem razão, mas os problemas estão se agigantando tanto no dia-a-dia da estatal que têm prejudicado seus resultados nos últimos três anos, quanto no fato de leva-la com frequência para as páginas não econômicas dos jornais.
Fica claro que os eventos onde o ex-presidente Lula disse que a analista do Santander “não entendia porra nenhuma de Brasil”, a tentativa do Banco Central de processar o economista Alexandre Schwarstman por críticas a política monetária e agora mais recente mais uma vez o ex-presidente Lula afirmando que os economistas da candidata Marina Silva deveriam ser proibidos de falar, deram aval para que a realidade fosse somente aquela que quer o governo. A realidade não é propriedade de ninguém, nem o estado nem as empresas estatais são propriedade do atual governo ou de qualquer outro.
É preciso que alguém veja um pouco além dos “muros” que cercam o Palácio do Planalto e os ministérios.