A questão da minha altura me chamou a atenção ao entrar no São Bento em 1967. Num colégio só de meninos, naqueles tempos, o bullying era algo que existia e era permitido. Havia até o trote nos chamados “bichos-novos”. Eu tinha uma vantagem: um irmão mais velho. Isso servia para impor respeito naqueles que queriam, todos os dias, me jogar dentro do bebedouro, algo que naquela época parecia o recipiente onde cavalos bebem água.
De fato, minha turma do antigo terceiro ano primário não era formada apenas por pivôs da NBA, mas eu era realmente o menor. No colégio, os alunos eram conhecidos de três formas: pelo número (o meu era 116); pelo apelido, principalmente se fosse algo pejorativo que irritasse o “cidadão”, ou pelo sobrenome, se tivesse irmãos ou se pertencesse à família de ex-alunos que marcaram época no colégio. Alguns poucos professores e padres chamavam a mim e meu irmão de Bianchini, por causa do meu tio que estudou lá, mas comigo o que pegou mesmo foi “Maurinho”, por questões óbvias.
Mas havia um inspetor que também se chamava Mauro, dono de uma voz que lembrava um grasnado, e que odiava o apelido de “Marreco” dado pelos alunos fazia tempo. Foi o que bastou para que eu passasse a ser “Marrequinho”. Isso me irritava um pouco, mas em casa meu pai me deu conselhos:
— Sempre que te chamarem assim, responda. Isso vai fazer com que o apelido deixe de ser uma provocação.
Verdade é que, até o final da minha temporada no São Bento e até hoje, muitos amigos de colégio me chamam de Marrequinho.
Mas isso não impediu que aparecessem os demais apelidos.
Na adolescência, naquele momento de namoros rápidos, e conquistas impossíveis, minha altura jamais me impediu de paquerar ou o que fosse. Devo garantir, sem constrangimentos, que um baixinho ajeitado pode ser mais desejado do que um alto com ar empinado. Ganhei bastante “respeito” ao namorar por alguns meses uma menina quase um palmo mais alta do que eu. A turma achava que eu “mandava bem”.
Quando olho para trás, percebo que nunca tive problemas por ser baixo. É claro que sempre existiram aqueles entes desprovidos de alguma inteligência para rir, que achavam graça em me chamar para jogar basquete. Ao que eu respondia que tinha compromisso com a irmã dele e, claro, já saía correndo temendo o pior.
Já adulto, casado, e em São Paulo, percebi que o paulista adora um apelido, e não há nada melhor do que um baixinho para animar as brincadeiras.
O mercado financeiro nada mais é do que uma extensão do ginásio. Todos se comportam como adolescentes, talvez em função do estresse, mas as gozações e apelidos são ininterruptos e algumas vezes cansativos. Eu me divertia e, de novo, não ligava para os nomes que eu ganhava.
Levando-se em conta os tipos físicos de meus pais e avós, era impossível ter uma altura diferente. Nunca senti necessidade de me afirmar por causa disso, nem lancei mão de artifícios comuns como adotar saltos um pouco mais altos nos sapatos. Preocupei-me em ser proporcional, isto é, usar roupas da maneira correta e jamais andar mal arrumado.
Procurei transmitir essa mesma segurança para as minhas filhas, pois sem dúvida alguma também não são modelos de passarela em matéria de estatura, mas são muito mais bonitas. Acredito que consegui demonstrar que a autoestima e a força se encontram no que você é e não em como é e ensiná-las a respeitar a todos.. Acho que existe um excesso de bullying hoje em dia, mas também um pouco de mimimi demais. É da natureza humana tentar classificar as pessoas fisicamente, é da natureza a animal que isso aconteça.
Então, apesar de sempre brincar com minha própria altura, posso afirmar que me garanto muito mais, no que for, que muito grandão por aí que se acha…
Você esqueceu de mencionar que além do sucesso com as gatas (que até hoje parece estar presente – vide a Morena), você foi um craque com a bola, apesar da estatura. Você também esqueceu de mencionar os baixinhos craques do futebol mundial (Zico, Maradona, Messi, etc). Como diria uma campanha publicitaria dos anos 70 (não lembro o anunciante e isso é grave para o anunciante), “Quem não é o maior, tem que ser o melhor”. Um abraço!
Primeiro obrigado por tantos elogios. Segundo agradeço de novo por tantos elogios. Grande Oscar a campanha era da Atlantic, com um ratinho. Abraços e obrigado.
Ah!
Uma vez eu vi o Pelé de perto na Praça XV (no Rio). Tinha acabado de ser tricampeão do Mundo. Um gigante de 1.70 metros. Eu tinha 15 anos e achava que ele era bem mais alto.
Gandhi tinha 1.64 e o Luther King 1.69
Acho que o Einstein também não tinha altura pra jogar volei ou basquete.
Posso te dar outros tantos, e também aqueles que usam “truques” nos sapatos para parecerem mais altos como fazia finado Jorginho Guinle. Nunca me impediu de fazer nada, só tinha que andar sempre com identidade para entrar em filme de 18 anos, como nasci em um ano dificil para os “bilheteiros” fazerem conta, 59, eu passava de qualquer maneira.
Abs