A Presidente Dilma corre o risco de terminar seu governo com uma taxa de juros superior àquela vigente quando começou seu mandato. Será a primeira vez que isto ocorre desde o segundo mandato de FHC. As projeções para o final de 2014, segundo pesquisa da Bloomberg com 25 economistas de bancos nacionais e estrangeiros, apontam para uma Selic de 11,25% aa, 0,5 pp acima de janeiro de 2010 quando era de 10,75% aa. Mas a bandeira da redução de juros ainda é mais prejudicada quando se leva em conta que eles chegaram a 7,75% aa em ação considerada precipitada por todos os 25 economistas consultados. Vale dizer que a Pesquisa Focus, coordenada pelo Banco Central com quarenta economistas aponta para juros de 10,25% aa ao final de 2014. É uma diferença grande que merece uma análise mais profunda dentro de três meses.
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Assim como ocorre com a Petrobrás, a Eletrobrás também sofre nas mãos da política econômica do governo. A decisão de reduzir as tarifas de energia elétrica para os consumidores residenciais e industriais, com antecipação de renovação de concessões, pegou a estatal “de surpresa” em 2012, e atrapalhou bastante o resultado da empresa neste ano. No acumulado de 2013, o prejuízo até setembro é de 714 milhões de reais, com perdas operacionais e despesas administrativas elevadas. Ao contrário de 2012, quando contribuiu com dividendos para o superávit do Governo, em 2013, essa “ajuda” não deve ocorrer. Os acionistas minoritários que reclamem “com o Bispo”, como diria minha avó.
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A presidente Dilma fechou acordo com todos os líderes de partidos da base aliada no Congresso a fim de que não se vote nenhum projeto que crie despesas para o governo sem a respectiva receita. Assim, ela afasta o temor de reivindicações sobre criação de pisos salariais nacionais para diversas categorias profissionais, ao mesmo tempo em que procura dar credibilidade a seu compromisso com a redução de despesas em 2014. Isto não impedirá pressões e possíveis derrotas do governo em ano eleitoral, ao sabor das pesquisas que ainda se mostram contraditórias.
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Em um leilão pouquíssimo badalado, o governo licitou treze lotes de Linhas de Transmissão. Três não foram arrematados. Dos dez arrematados, seis foram para estatais. Logo somente 25% foi para a iniciativa privada. Nesta modalidade, vence o leilão quem oferecer o maior deságio a partir de um valor determinado pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). Nos leilões anteriores, a média do deságio foi de 29% revelando maior interesse. Neste, a média ficou em 7%. Para que houvesse interesse nesta rodada o governo elevou o prazo para investimentos até a entrada em operação de 36 para 48 meses, pois senão corria o risco de que não aparecesse ninguém. A participação estrangeira, onde se depositavam muitas expectativas foi pequena, envolvendo apenas duas linhas e frustrando mais uma vez o governo. É mais um leilão com resultado “meia-boca” (veja também Privatizações à moda da casa).
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O PIB do terceiro trimestre será uma surpresa para todos, dentro e fora do governo, isso porque haverá uma mudança na metodologia de cálculo, com a introdução da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS). Isto deverá fazer com que o PIB de 2012 seja revisado para cima e o de 2013 seja maior que o projetado até agora, que é de 2,5%. Normalmente modificações são feitas no terceiro trimestre, mas em momentos de dificuldade do governo estranham-se movimentações desse tipo. Há quem considere isso um caso de “aparelhamento” da máquina estatal. (Leia também Blá blá blá.)
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As dúvidas persistem. Em outubro houve recorde de arrecadação para o mês e crescimento sobre 2012 e sobre o mês anterior, em termos reais, descontada a inflação do período. Mas ao mesmo tempo o governo não consegue cumprir a meta de superávit primário e ainda vemos desânimo por parte dos empresários e expectativa de baixo crescimento. De onde vem tanto dinheiro e para onde vai? O governo divulga e se gaba de índices de desemprego baixíssimos em relação ao resto do mundo. Ao mesmo tempo batem-se recordes com os gastos em seguro-desemprego. Qual dos indicadores está com problemas?
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O governo suspendeu a Assembleia Geral Extraordinária da Petrobras que aconteceria na próxima sexta-feira: ainda não há consenso sobre a fórmula de reajuste dos combustíveis. Ontem (quarta-feira, 20 de novembro) a manchete do jornal Valor Econômico anunciava que a estatal voltara a entrar no radar dos administradores de recursos nacionais e estrangeiros por conta da demonstração de força de sua presidente Maria da Graças Foster ao conseguir “emplacar” uma fórmula de reajuste. O embate não acabou e o governo dá demonstração de querer economizar dinheiro e ao mesmo tempo continuar interferindo nas empresas, pois não tem como combater a inflação. E os acionistas, como disse acima, que reclamem “com o Bispo”. (Mais sobre o tema em A maior, não a melhor.)