O que será do amanhã? A pergunta entoada no antigo samba-enredo da União da Ilha deve andar na cabeça de muitos brasileiros. Vamos partir do cenário da reeleição da presidente Dilma e imaginar um pouco do que está por vir. Apesar do clamor de muitos por ajustes profundos na economia, antevejo a possibilidade de que não haja nenhuma mudança em 2015 e mesmo em 2016, obedecendo a filosofia do “deixa como está para ver como é que fica” praticada até então. Aliada à procrastinação, marca registrada do atual governo há quase quatro anos, deve ser levado em conta um novo panorama internacional. A Europa patina na falta de crescimento e em alguma deflação, podendo desencadear uma nova onda de liquidez mundial. Do outro lado do globo, o Japão segue sem produzir crescimento ou inflação, mantendo alta liquidez. Em conjunto, os dois poderiam compensar a retirada de estímulos feita pelo governo norte-americano.
Em excelente artigo, publicado no jornal Valor Econômico em 21 de maio, os professores Pedro Ferreira e Renato Fragelli, da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas afirmam que “a manutenção da rota atual é compatível com um breve futuro sem sustos, mas de crescimento medíocre”. O cenário é factível, mas aprofundará as dificuldades para fazer ajustes futuros. E quanto maior a demora, mais difíceis serão eles.
Ao juntarmos esse diagnóstico com a declaração da presidente Dilma de que o Brasil “não vai explodir, e sim o Brasil vai bombar”, sou levado a concluir que não devemos esperar grandes mudanças com sua reeleição. Duvido demais do conhecimento econômico dela e o que pretende para o país.
A liquidez que mencionei anteriormente garantirá fluxo de recursos externos para o país em função da atual taxa de juros vigente, que dá mostras de alguma estabilidade de curto prazo, mas de alta moderada no médio e longo. Porém, como já ressaltei outras vezes, são recursos que como vêm, vão, sem deixar rastro.
A atividade econômica lentamente fica mais fraca e segue sustentada por gastos acima da receita por parte do governo. A agricultura sustenta a parte saudável e a indústria mergulha em incerteza pela energia mais cara ou em falta. O setor de serviços sente o aperto nos orçamentos e já em 2014 crescerá pouco. Mais do mesmo.
Estamos acostumados a chamar pessoas incompetentes de “medíocres”. Arrisco dizer: quem dera nosso desempenho econômico fosse assim, na média!
De acordo com artigo dos professores da FGV, estamos bem abaixo do nosso potencial e isto é um desperdício de tempo, energia própria e dinheiro. O mundo permitirá comparações como aquelas que o governo gosta, pois crescemos 1,5% mas os outros países desenvolvidos cresceram 1,3%. Serviria isso de consolo para um país atrasado em todos os sentidos! Traz muito pouco alento perceber que deveremos perder, mais uma vez, um daqueles bondes da história, voltando a desperdiçar oportunidades e vendo países com menos potencial receberem investimentos que poderiam ser nossos pelas razões mais prosaicas, envolvendo a burocracia e as mesquinharias político-partidárias.
Mas chega de negativismo. Façamos um novo exercício. O exercício do otimismo, para variar um pouco, apesar de exigir um enorme esforço para ser praticado.
Digamos que após a eleição haverá um ajuste doloroso, difícil, que levará uns dois anos para render resultados concretos. Digamos que depois disso, a partir de 2017, o país voltará a crescer a taxas acima de 3%.
Quem acredita nisso levanta a mão!