E a Copa do Mundo é um sucesso!
E quase todos os brasileiros dão mais uma prova de que memória não é mesmo nosso ponto forte.
A primeira etapa da competição já se encerrou sem que nenhuma tragédia previamente anunciada tenha acontecido, bradam repórteres, articulistas e cronistas. Eu rio diante de tais comentários, não sei se por descrédito ou por desilusão.
Não houve o blecaute esperado. Faltou luz nos refletores no jogo inicial e o país ainda corre risco, sim, de apagão e a conta que pagaremos por conta disso, estimada no orçamento pelo governo em nove bilhões de reais, já está em 22 bilhões e continua a subir. O problema não é a Copa.
Não houve caos aéreo. Que beleza! Mas dispenderam-se 6,5 bilhões de reais e somente um dos doze aeroportos ficou totalmente pronto. O problema não é a Copa.
Os torcedores estão chegando aos estádios a pé, de carro, de ônibus ou de qualquer coisa, menos de metrô, exatamente como queria o ex-presidente Lula. Enquanto isso, outras dezenas de milhões de pessoas ficam presas em engarrafamentos recordes em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Porto Alegre e demais sedes. São aquelas que acreditaram em obras que não saíram do papel, que não foram concluídas ou que ficaram “meia-boca”. Ah sim, lembrei que inventaram de decretar feriado em dia de jogo para reduzir os problemas de mobilidade. Excelente solução, uma vez que a economia anda uma maravilha e não para de crescer, não é, ministro Mantega? O problema não é a Copa.
E os estádios lindos, lotados, com festa?, perguntariam os otimistas da vida. Resposta pronta: estão lá e ficarão lá. Foram construídos com bilhões fornecidos pelo governo e não pela iniciativa privada, como prometera Lula. O entorno continua um lixo e ninguém tem pressa de saber se eles serão usados depois e se haverá benfeitorias nas vizinhanças. Alguém aceita aposta? O problema não é a Copa.
Mas e a festa? Não vai falar da festa? Claro que vou. Estou adorando. Futebol é muito importante para mim e a Copa do Mundo é o ápice. Mas ela dura apenas trinta dias e acontece apenas a cada quatro anos. Depois da final, prevejo que a ressaca moral, política e financeira será grande.
Passamos cinco anos ouvindo falar do tal “legado da Copa”, seguidos por outros dois de justificativas do governo e broncas da FIFA, subitamente demonizada, enquanto nós, coitadinhos, somos vítimas da exploração do capital internacional. Alguém lembra que assinaram tudo que foi prometido e entregaram apenas 35%, custando 120% do orçado?
E a última discussão é sobre a isenção fiscal. Tem tanta bobagem escrita sobre o assunto que chega a me dar desânimo. Não houve isenção total. O que andam dizendo por aí é um absurdo. A arrecadação recorde da FIFA deve-se ao fato de que nas últimas quatro Copas não houve estádios tão cheios como dessa vez. Nunca houve tantos patrocinadores máster, e nunca os direitos de transmissão foram tão caros. É isso que dá dinheiro e não a venda de Fulecos, que aliás estão abaixo da expectativa (queriam o quê?). Houve isenção sim para diversos produtos licenciados pela FIFA, para evitar a concorrência com produtos piratas importados e isso não afetou de maneira forte a arrecadação do governo. Fazer a apologia de que a isenção foi para equipamentos de TV e para os uniformes das seleções é me achar com cara de idiota.
Enfim a festa é inigualável, mas parece a história daquele cara que gasta tudo o que tem para fazer uma grande comemoração, sob a desaprovação geral de todos que o conhecem. Depois, durante os festejos, todo mundo aproveita e o cara reclama. Acontece que no dia seguinte, depois da festa, a conta chega.
