A felicidade do momento

O Supermercado Pão de Açúcar fez imenso sucesso com o slogan “O que faz você feliz?” e tenho que confessar que na época que começou a ser veiculado eu já estava em profunda transformação. Carreira abalada, perdas financeiras imensas, casamento acabado na prática, psicologicamente sem rumo e questionando todos os caminhos até aquele momento percorridos.

Esforcei-me bastante para responder a pergunta e inconscientemente acompanhava cada lançamento de música nova da propaganda. Uma resposta eu tinha os preços do Pão de Açúcar nunca me fizeram feliz!

O mercado financeiro sempre me atraiu, desde os tempos da faculdade de economia. A tal da “mão invisível” de Adam Smith me fascinava e a mais completa tradução (me perdoe Caetano Velloso) era a cotação das ações nas bolsas de valores.

Como era possível então que, depois de quase trinta anos, eu questionasse o que me fazia feliz? Sempre foi óbvio: o trabalho, o casamento, a família, as filhas e tudo mais que fazia na vida, além de, é claro, correr. Não necessariamente nessa ordem.

Precisei de quase oito anos para poder começar a responder a pergunta feita agora pela Clarice Falcão, período que passei por uma dolorosa separação de mulher e filhas, depressão profunda, duas internações que somaram quatro meses, consumo de dezenas e dezenas de tarjas-pretas, perda de inúmeras amizades, perda quase total da autoestima até a volta para minha cidade natal e o reencontro com a família a quem eu havia abandonado.

Aprendi que muitas coisas me fazem feliz, e que não precisa existir só uma, e sim uma a cada momento. Parece idiota, e é. Só que o mundo que construí, vivi, destruí e perdi não se baseava nisso. Eu buscava algo que não existe: a felicidade permanente. Então hoje para mim, a resposta é genial!

Não acredito que é possível ser feliz pura e simplesmente, a vida é dificil demais e não somos e nem estamos sozinhos. As dificuldades das minhas filhas são minhas e isso acontece com todos. É difícil não mudar e se entender com isso. Fui educado, frequentei colégios e fui criado para ser de um único jeito e manter-me inalterado. Percebi na morte de meu pai que o relógio de cada um é diferente e que eu tinha que mudar.

Desde muito cedo acompanho minha vida com músicas. São várias as que apontam contradições do que eu era ou do que deveria ser. E perceber isso depois de tantos anos é de uma tristeza imensa. Quanto tempo perdido! E agora quanto tempo resta?

Essa percepção veio a mim em setembro passado. Assim, só para mim, decidi que vou comemorar a data como um novo aniversário. Não que eu tenha nascido de novo para algo espetacular, maravilhoso, sideral ou outras bobagens. Não que tenha me curado de algo, mas porque consegui responder sozinho a uma pergunta que me atormentava a cada ida ao terapeuta, a cada comprimido tomado para reduzir a ansiedade.

Como dizem por aí: se é para se jogar, então lá vou eu, sem paraquedas!