A loja da culpa

— Oi amor! Como foi a viagem?

— Boa, sem novidades.

— Conseguiram um consenso?

— Acredito que sim. Olhe aqui, trouxe para você.

— Oba, chocolate! Mas da loja do aeroporto?

— Não sei. Tem essa loja no aeroporto?

— Claro que tem e você sabe muito bem! Acho até que devia se chamar de A Loja da Culpa!

— Deixa de bobagem. Se eu não trago nada você diz que é porque só penso em trabalho.

— E trouxe alguma coisa para as crianças?

— Não, elas já têm coisas demais.

— Mas um chocolatezinho. Bala. Até chiclete…

— Para com essa história. Se não gostou, deixa aí que eu como depois do jantar.

— O que você fez ontem à noite?

— Jantei com o pessoal da filial e voltei para o hotel.

— E por que o chocolate da loja do aeroporto?

— Por que me lembrei de você e comprei. E não foi no aeroporto!

— Só lembrou na hora de pegar o avião. Tava com medo de morrer e limpou a consciência.

— Que insistência de dizer que foi no aeroporto, meu Deus!

— Não diga o santo nome em vão, que é pecado. Onde vocês foram depois do jantar? Aposto que foram pra uma boate de striptease. Vocês são patéticos. Até pra trair estão fora de moda!

— Não fomos a lugar nenhum… E isso tudo é por causa de uma caixa com oito bombons.

— Só oito! Então a culpa é paga só com oito bombons! Você acha que sou tão barata assim?

— OK! O que vou ter que fazer para você me deixar em paz? O que eu preciso dizer para jantar, falar com as crianças e depois ver o futebol?

— Na-na-ni-na-não! Se teve gás pra cair na gandaia ontem, vai ter que comparecer hoje e tem que ser noite de gala! Nada de dez minutos e ronco!

— Opa! Até que enfim! Acho que faz uns cinco anos que você não propõe nada!

— Epa! O que você está querendo dizer?

— Nada, vai, eu te trai ontem com duas “moças”. Vamos logo pra noite de gala!

— De jeito nenhum! Eu nunca quero, não é o que você disse? Então vê o seu futebol e dorme na sala!

— Pelo menos posso comer os bombons?

— Nunca! E eu vou fazer o quê, na cama, sozinha?