Autoconfiança: modo de usar

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Segurança para dar os primeiros passos na vida adulta.

Costumo passar diante do monumento a Estácio de Sá, no Flamengo, e contemplar os jovens que posam para as fotos de formatura. Para encarar o mundo que se abre, o desafio do primeiro emprego e dos sonhos da vida profissional, torço para que disponham dentro de si de uma pequena dose de autoconfiança. Alguns parecem ter nascido com essa característica, um senso de seu potencial de crescimento que permite que sigam em frente mesmo quando as circunstâncias não são as melhores ou quando erram. Tropeçam, sacodem a poeira e voltam a tentar por acreditarem em si mesmos. Desconfio porém que as inseguranças, as dúvidas sobre o futuro e a timidez prevalecem na maioria daqueles jovens. Sem problemas. A experiência ajuda a cultivar a autoconfiança, qualidade que jamais deve ser confundida com arrogância ou soberba.

Devo dizer que fiz parte daquele pequeno grupo de jovens abençoados desde cedo com uma boa dose de autoconfiança. Aos 25 anos, formado em Economia, e já casado, fui para São Paulo com meus objetivos traçados. Estava determinado a me tornar gestor de recursos antes de completar 40 anos. Na época, tinha sido convidado para montar um departamento técnico para análise de ações em uma das três maiores corretoras do mercado. Nada parecia impossível.

Os anos trouxeram uma sequência de planos econômicos e me deram a oportunidade de, humildemente, aprender com os mais velhos e melhores na profissão. Foi um período, reconheço, de absoluta ralação, mas os resultados que eu obtive fortaleceram minha segurança e antes dos 40 anos alcancei meu objetivo. Na verdade, superei minhas expectativas. Fui enviado para Nova York para estudar e trabalhar. Foi como se eu tivesse sido chamado a comparecer ao próprio Olimpo.

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Al Pacino leva o jovem Keanu Reeves a cair em tentação em Nova York, no filme O Advogado do Diabo.

É muito fina a linha que separa a autoconfiança da soberba. Ela é trespassada por pequenas atitudes arrogantes, quase imperceptíveis mudanças na forma de se dirigir às pessoas. No final das contas, você se sente um rei e é capaz de esquecer o passado. Convence-se de que tudo está no papo e que não é preciso qualquer treino adicional para dar um salto ainda maior. O filme O advogado do diabo, com Al Pacino, Keanu Reeves e Charlize Theron serviria como uma boa analogia do que aconteceu comigo, guardadas as devidas proporções, é claro.

Cheguei a Nova York com todos os meus planos traçados para os próximos cinco anos. Devo admitir: sentia-me o maioral, como se pouco tivesse a aprender e me bastasse apenas acompanhar o que os grandes faziam. Erro colossal: não percebi que eu era um nada vindo do Brasil e que ali eu precisava aprender tudo do zero. A soberba cega, incapacita. Enquanto a autoconfiança é a consciência de que é possível cumprir uma tarefa ou, pelo menos, ter a tranquilidade de aprender com quem sabe, a soberba se basta, dá a falsa certeza de que ninguém sabe mais. Como logo pude constatar, o fracasso era a próxima e inevitável parada. E suas consequências, devo dizer, sinto até hoje.

A autoconfiança é fundamental para se pôr em prática os conhecimentos, para perder o medo de errar – o erro é inevitável — e se manter aberto para aprender em todas as ocasiões. Perfeição só no cinema, mesmo assim se seu nome for Bond, James Bond.

A soberba é um cachorro que deve ser levado na coleira de pinos com focinheira. Pode até ser exibida em alguns momentos, mas nunca solta. A autoconfiança anda sem coleira a seu lado, obedece ordens e pode ficar à vontade. Acho que gostaria de dar de presente minha pequena história para aquela garotada das fotos de formatura, que lança os capelos no ar diante de sua primeira grande conquista. (Por Mauro Giorgi)

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